México discutiria ‘terceiro país seguro’ com EUA; Trump ameaça com tarifas

O México anunciou nesta segunda-feira (10) que discutiria com os Estados Unidos a possibilidade de ser um “terceiro país seguro”, ou seja, acolher os demandantes de asilo em território mexicano no lugar dos Estados Unidos, se o fluxo de migrantes em situação irregular não diminuir em 45 dias, enquanto Donald Trump voltou a ameaçar com a adoção de tarifas alfandegárias.

Na sexta-feira, os dois governos alcançaram um acordo para evitar que Washington impusesse tarifas ao México se o país se comprometesse a aumentar a segurança em sua fronteira sul e expandir sua política de devolução dos migrantes centro-americanos enquanto os Estados Unidos processam seus pedidos de asilo.

Nesta segunda, em meio a especulações sobre o conteúdo do acordo, o ministro mexicano de Relações Exteriores, Marcelo Ebrard, disse que tinha rechaçado a demanda de Washington de ser um “terceiro país seguro”, mas se comprometeu a examinar o tema em 45 dias.

No Méxicom Ebrard disse que na reunião com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, seus interlocutores insistiam no sistema do terceiro país seguro ou primeiro país de asilo”, mas o México propôs dar um prazo para ver se a mobilização de sua Guarda Nacional na fronteira sul diminuía a migração de ilegais vindos da América Central, disse Ebrard em coletiva de imprensa.

Ele acrescentou que caso contrário, o México discutiria essas medidas adicionais propostas por Washington.

Por iniciativa de México, também se discutirá com Guatemala, Panamá, Brasil e o escritório das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) outras medidas porque, segundo Ebrard, a responsabilidade migratória “tem que ser regional”.

Mas estes dois cenários exigiriam a análise e eventual aprovação dos legisladores mexicanos, admitiu o chanceler mexicano.

Por enquanto, as autoridades locais disseram que o governo federal lhes informou que o deslocamento da Guarda Nacional na fronteira sul pode levar cerca de uma semana e que enviaram 400 policiais federais para reforçar a fronteira.

– “Não acredito que continuam negando” –

Deixar de lado o conceito de “terceiro país seguro” foi “o maior feito da negociação” alcançado na sexta-feira com os Estados Unidos, apenas dois dias antes do prazo que Trump havia dado para impor tarifas alfandegárias aos produtos do México, disse Ebrard.

“Eu não acredito que continuarão negando”, disse Trump a jornalistas na Casa Branca, que mais cedo havia voltado a ameaçar o vizinho com tarifas.

Em uma série de tuítes pela manhã, o presidente afirmou que uma disposição do acordo precisaria de ratificação pelo legislativo mexicano e advertiu que se por algum motivo não for aprovado, as tarifas serão restabelecidas.

O México tem um congresso bicameral e o Morena, partido do presidente Andrés Manuel López Obrador, tem maiorias confortáveis nas duas casas.

Trump tensionou as relações com seu aliado ao anunciar no fim de maio tarifas alfandegárias de 5% em todas as importações procedentes do México, que iriam aumentando cinco pontos percentuais mensalmente até um teto de 25% em 1º de outubro, se seu vizinho do sul não detiver o fluxo migratório rumo aos Estados Unidos.

Especialistas em comércio advertiram para as consequências devastadoras que teria para as duas economias a entrada em vigor destas tarifas. No entanto, opositores e defensores dos direitos humanos se voltaram contra o governo mexicano pelo acordo migratório, dizendo que havia cedido demais e criminalizado a migração.

A ameaça de impor tarifas crescentes detonou o momento mais difícil da relação bilateral, enfatizou Ebrard. O tom na mesa de discussões do lado americano, argumentou o chanceler, era “quase de ultimato – bom, tirem o quase”.

Pelo menos 1,2 milhão de empregos teriam sido perdidos, prosseguiu, o IVA teria que ser aumentado em 10% de uma só vez e o Produto Interno Bruto (PIB) teria caído mais de um ponto.