Em entrevista Casagrande diz que Lula não pode errar na gestão da economia

Em entrevista Casagrande diz que Lula não pode errar na gestão da economia

O governador do Espírito do Santo, Renato Casagrande (PSB), reeleito para o cargo no segundo turno das eleições deste ano, concedeu entrevista ao jornal Valor Econômico, momento em que falou sobre a economia nacional, especialmente no que se refere à gestão do presidente da República eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que começa o seu governo a partir de janeiro do próximo ano.

Na entrevista divulgada na última quinta-feira (17), em que é citado como quadro histórico do PSB,  partido do qual é secretário-geral, Casagrande aponta os possíveis caminhos que Lula deve seguir para conseguir equilibrar boa gestão fiscal com investimentos em áreas sociais prioritárias.

Segundo o socialista, a Economia, no caso do presidente da nação, é a área onde o mandatário tem menos direito de errar.

“(…)  O acerto na indicação dos ministérios da Fazenda, do Planejamento, é o que vai nos dar o controle da inflação e uma economia forte, que gere oportunidades. Todo mundo tem direito de errar, mas na economia o presidente não tem esse direito”, disse Casagrande, na entrevista.

O chefe do Executivo estadual ainda indica qual seria o perfil ideal do ministro da Fazenda no governo Lula, no sentido de passar uma imagem de confiança ao mercado e à população.

 “Pode ser político ou economista, desde que as pessoas tenham confiança, saibam que vai cuidar das contas e da política monetária, que vai seguir as orientações do debate com o Banco Central. Tem que ser alguém que dê segurança de que o Brasil, sob coordenação de Lula e Alckmin na área econômica, vai ser um grande colaborador que transmite confiança a quem quer empreender”, apontou Casagrande.

Ruído no mercado financeiro

O governador também repercutiu, na entrevista, o episódio em que Lula ironizou a responsabilidade fiscal. No último dia 10, em discurso para apoiadores, o petista indagou: “Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste país?”. O mercado financeiro nacional reagiu mal à sua provocação.

Questionado se a postura supostamente despreocupada de Lula acerca da responsabilidade fiscal não o preocupava, Casagrande minimizou a declaração do presidente recém-eleito.

“Acho que não. Da eleição para cá, Lula tem dado declarações responsáveis. Às vezes é uma palavra mal colocada, tudo o que o presidente fala tem repercussão, mas não acredito que isso represente o que Lula pensa”, afirmou.

Desempenho do PSB 

Além de debater o cenário econômico nacional,  Casagrande também respondeu à reportagem do Valor Econômico sobre aspectos político-partidários, entre eles o fato de sua legenda, o PSB, nas eleições deste ano, não ter conseguido eleger um número de parlamentares suficiente para ter uma boa representatividade na Câmara dos Deputados a partir do ano que vem, quando começa a nova legislatura na Casa.

Reconhecendo que houve um déficit no número de deputados socialistas eleitos para Câmara, afirma, na entrevista, que, agora, cabe à legenda trabalhar para recuperar o tamanho da bancada para os anos seguintes.

De fato teve um número de votos menor na Câmara, que é o principal meio de medir partido. Tivemos uma perda. Cabe agora, nos próximos quatro anos, recuperar o tamanho da bancada, atrair deputados de partidos que não alcançaram a cláusula de barreira. Foi uma eleição difícil, polarizada, diferente, em que os polos acabaram se beneficiando. Uma eleição que não pode ser usada como parâmetro. Teve uma nacionalização da política local, temas locais tiveram menos importância. Acredito que os deputados em sintonia com a polarização nacional tiveram vantagem. É uma eleição que exige reflexão do PSB e trabalho para se fortalecer nos próximos quatro anos”, avaliou.

Nacionalização da disputa estadual

O governador reeleito também afirma ter se sentido prejudicado, em algum momento, pela nacionalização do primeiro turno das eleições, em que a polarização em torno da disputa pela Presidência da República refletiu diretamente nos estados.

Casagrande, entretanto, reforça ter conseguido virar o jogo, apesar do forte clima de oposição enfrentado no segundo turno do pleito, especialmente por parte da ala bolsonarista.

“O Espírito Santo foi o único Estado em que, mesmo com bolsonarismo forte, um candidato coligado a Lula ganhou. Em quase todos os Estados, o presidenciável puxou seus candidatos. No Rio Grande do Sul e em Pernambuco, também ganharam nomes sem alinhamento com o candidato a presidente mais forte, mas não tinham identidade progressista, coligação com o PT”, lembrou.

“Casanaro”

O Valor Econômico também perguntou a Casagrande como ele avaliava  o movimento de aliados que teriam pediram voto casado para ele e o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), derrotado por Lula no segundo turno. O socialista afirmou ter visto a estratégia com naturalidade, tendo em vista a ampla aliança partidária que fez.

Natural. No primeiro turno já fiz uma aliança ampla: com o PDT de Ciro Gomes, o MDB de Simone Tebet, o PP, que apoiava Bolsonaro. No segundo isso ficou mais evidente porque alguns deputados eleitos, preocupados com o futuro do Estado e que apoiavam Bolsonaro, acabaram fazendo um movimento Casagrande-Bolsonaro. Mas foi algo espontâneo, sem a participação da minha campanha.

Na mesma ocasião, Casagrande disse ter ficado impressionado com a força que o bolsonarismo ganhou no País.

“Não é que tenha me surpreendido, mas a força do bolsonarismo é impressionante. Bolsonaro não perdeu voto em nenhum momento. Cresceu sua votação no segundo turno, apesar de todos os fatos polêmicos em que se envolveu. É um movimento forte, que precisa ser considerado. Vimos a força no Congresso e na disputa pela Presidência”, ressaltou.

Mudança de presidente e relação com os Estados

A  troca de presidente da República, a partir de 1 de janeiro do ano que vem, vai sinalizar uma mudança na relação do Executivo federal com os estados, segundo Casagrande.

“Vai ser grande a mudança. Bolsonaro tem um estilo: delega todos os assuntos federativos aos ministros, poucas vezes teve a preocupação de se reunir com os governadores, prefeitos. Nos poucos momentos em que reuniu, durante a pandemia, foram reuniões conflituosas. Há diferença entre reunir os 27 governadores com uma equipe e conversar diretamente com o presidente sobre os temas federativos (…)”, disse.

*Com informações do jornal Valor Econômico

Fonte:FolhaVitoria