Ações para preservar o Rio Doce em pauta
Engenheiro e hidrogeologista Henrique Lobo falou sobre a importância da cobertura vegetal para frear o processo de assoreamento do Rio Doce
“A situação atual do Rio Doce é que nós temos 80% da bacia hidrográfica com capacidade degradada. Nós perdemos em torno de 140 milhões de toneladas de solo todos os anos para dentro do próprio Rio Doce, que tinha três metros de profundidade em média, na década de 1960, hoje é um rio que tem 90 centímetros de profundidade”. O cenário foi descrito pelo engenheiro ambiental e hidrogeologista Henrique Lobo na palestra de abertura da Semana de Proteção ao Rio Doce da Assembleia Legislativa (Ales), nesta segunda-feira (18).
Membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e conselheiro do Instituto Terra, Henrique Lobo proferiu palestra com o tema “Rios da Terra”, explicando o nascimento dos rios desde as primeiras formações geológicas do planeta. Também relatou seu trabalho na restauração dos rios Jordão, Tigres e Eufrates em suas atividades por 60 países e em 93 bacias hidrográficas nos cinco continentes. No Brasil, as que ele mais tem pesquisado são as bacias do Amazonas e do Doce.
Rio Doce
Lobo estuda o Rio Doce há 44 anos e comentou que o processo de ocupação da região é histórico e teria começado por volta de 1790. “Mas a grande ocupação foi a partir de 1940, quando começou o desmatamento dessa grande floresta. A região teve a maior floresta madeireira que o mundo já viu. Tinha ali 400 espécies de plantas por hectare, espécies moveleiras. Sobraram apenas 8% dessa floresta”, relatou.
Ele explicou que a Bacia do Rio Doce abrigou o encontro de duas grandes florestas, a Amazônica e a Mata Atlântica. “Uma floresta que vem da Argentina, norte do Paraguai, veio até Linhares, e uma Floresta Amazônica que veio até o vale do Rio Doce. É o encontro de dois grandes ecossistemas, dois grandes ambientes. As florestas se misturaram”, explicou Lobo.
A retirada da cobertura vegetal, o manejo inadequado do solo, as queimadas durante mais de 50 anos foram apontados como principais fatores para o assoreamento da bacia hidrográfica. Para Lobo, o grande problema do Rio Doce é a falta de água e, por isso, é preciso restaurar as nascentes de seus afluentes. Conforme explicou, a água não chega ao Doce porque não é absorvida pelo solo.
Semana
A Semana de Proteção ao Rio Doce acontece no Auditório Augusto Ruschi da Ales até sexta-feira (22) e é promovida pela Comissão Parlamentar Interestadual de Estudos para o Desenvolvimento Sustentável da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Cipe Rio Doce). Formada por cinco deputados estaduais capixabas e outros cinco mineiros, a Cipe atualmente é presidida pela deputada Janete de Sá (PSB).
Além de ambientalistas e do público em geral, alunos de diferentes escolas capixabas participam da Semana de Proteção ao Rio Doce. No primeiro dia de atividades, estiveram presentes 74 alunos da Escola Super Aprendiz, uma instituição de aprendizagem vinculada à ONG Comunidades, Organizações e Pessoas (Coep Brasil), com atuação em vários estados e também no Espírito Santo.
O evento é anual e acontece sempre na semana do dia 22 de março – Dia Mundial da Água. Sua organização é de responsabilidade da coordenação da Cipe Rio Doce, vinculada à 2ª Secretaria da Ales.
Dos 246 municípios envolvidos pela Bacia do Rio Doce, 28 deles estão no Espírito Santo. Com 853 quilômetros, o Rio Doce nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais. No Espírito Santo, Baixo Guandu, Colatina e Linhares são as principais cidades banhadas diretamente pelo Doce. Sua foz é em Regência, no município de Linhares.
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