Otimismo e eleições
Por Luiz Paulo Vellozo Lucas
A sensação de bem estar, fell good sensation, é um fator que influi eleitoralmente a favor ou contra o governante incumbente. O otimismo ou o pessimismo da população variam de acordo com a sensação de bem estar e são referencia para a disputa tanto nas eleições gerais quanto locais. As eleições, sempre antagonizam aprovação ou desaprovação do governo incumbente, continuidade ou ruptura. Quem é governo localmente é ajudado pelo otimismo nacional sendo aliado politico ou não.
Quem é oposição localmente tende a reforçar o posicionamento crítico e ser pessimista. O alinhamento politico local/nacional é percebido como vantajoso.
No período do regime militar as eleições permitidas (não existiam eleições para presidente, governadores e prefeitos das capitais) eram realizadas com o voto vinculado, isto é o eleitor era obrigado a escolher todos os candidatos do mesmo partido e existiam apenas dois partidos: a ARENA da situação e o MDB da oposição.
Em 1979 foi restaurado o pluripartidarismo e a ARENA tornou-se o PDS e o MDB virou PMDB. Criaram-se ainda o PT, o PDT e o PTB. A polarização fortalecia a oposição que crescia e assustava o regime. Em 1982, no governo do General Figueiredo, houve eleição para governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador na mesma data com voto vinculado. Com isso o governo pretendia fazer com que seu maior controle politico em nível municipal influísse nas escolhas nos demais níveis de governo e assim o colégio eleitoral que escolheria o presidente da republica seria preservado com o predomínio de políticos leais aos militares.
A Lei Falcão de 1976, proibia que os candidatos falassem diretamente aos eleitores na TV e no radio. Não era permitido debates, jingles, entrevistas nem discursos apenas fotografia fixas e a leitura do currículo dos candidatos.
O que os estrategistas políticos dos militares não contavam é que parte significativa dos políticos eleitos pelo PDS iriam sintonizar-se com o pessimismo predominante na sociedade e formariam uma dissidência aberta para aderir ao PMDB e dar a vitória a Tancredo Neves em janeiro de 1985. (Frente Liberal, depois PFL) A ameaça de anulação do voto para quem votasse em candidatos de partidos diferentes funcionou apenas parcialmente a favor do governo.
O mal estar com a ditadura e o pessimismo da população não deu a vitória à oposição nas eleições de 1982, por causa da manipulação das regras feitas pela ditadura nas regras eleitorais, mas no colégio eleitoral em 1985 a oposição venceu.
Os parlamentares estaduais e federais agem apoiando ou se opondo aos projetos dos governos estadual e federal e também através das emendas de orçamento (68 milhões por ano para cada senador e 37 milhões para cada deputado federal de emendas individuais impositivas fora as emendas de bancada e do relator).
A desaprovação do governo reduziu-se depois da abertura das negociações com Trump e o esvaziamento politico do bolsonarismo.
O projeto Lula 4 se fortaleceu mas as pesquisas apontam para um enorme desejo de mudança no plano nacional, o cansaço com o ambiente agressivo de polarização e radicalismo, o crescimento da demanda por racionalidade e moderação.
Mesmo que a oposição ainda não tenha um projeto alternativo devidamente “fulanizado”, alguns analistas acreditam que um nome regional ainda desconhecido nacionalmente, sem nenhum dos Bolsonaros na chapa, pode vencer Lula em 2026.
Os governos estaduais estão dando mais certo do que o governo federal e se apropriando do otimismo existente. Pode ser suficiente para manter o poder no nível estadual mas na eleição presidencial ainda não.

Engenheiro, Mestre em Desenvolvimento Sustentável, ex-prefeito de Vitória-ES e membro da ABQ-Academia Brasileira da Qualidade.


