Eleições 2022: as 10 indefinições para outubro no ES
Na política há um ditado que diz que quem queima a largada também acaba se queimando. Isso acontece, normalmente, quando um pretenso candidato anuncia que vai disputar uma eleição com muita antecedência, por exemplo. Seu anúncio precoce pode atrair “pedradas” e ele acabar sendo minado antes mesmo do jogo começar.
É por isso que muitas vezes, para afastar embates antecipados, muitos deixam para definir – ou anunciar o que já estava definido – bem próximo ao final do prazo, pegando alguns adversários de surpresa.
Mas, se por um lado postergar o anúncio protege dos ataques, por outro, abre-se o risco de perder o timing das negociações, e das boas negociações. Afinal, como também diz um ditado na política, “quem chega primeiro bebe água limpa”.
No Espírito Santo, o cenário indica que a maior parte das lideranças diretamente envolvidas na eleição de outubro vai realmente deixar as principais definições para os 45 do segundo tempo. A coluna “De Olho no Poder” listou as principais indefinições presentes a pouco mais de três meses da eleição. Na coluna anterior (leia aqui) foram listados os seguintes questionamentos, ainda sem respostas:
1 – Casagrande vai disputar a reeleição?
2 – PT e PSB estarão no mesmo palanque?
3 – Quem será o candidato ao Senado apoiado pelo governo?
4 – Todos os pré-candidatos ao governo irão disputar?
5 – Quem vai fechar com quem?
E a seguir, outros cinco pontos que ainda precisam ser definidos no Estado até agosto – o mês, que segundo a superstição costuma ser de mau agouro na política, é também o que determina o fim do prazo dos arranjos partidários por meio das convenções.
6 – PL e Republicanos vão caminhar juntos?
Se no campo progressista analistas políticos avaliam que haverá divisão de votos caso haja duas candidaturas, como as de Casagrande e Contarato, no campo conservador a análise é a mesma.
De um lado tem o PL, partido do presidente Bolsonaro, que tem o ex-deputado Carlos Manato como pré-candidato ao governo do Estado e o presidente da legenda e ex-senador Magno Malta como pré-candidato ao Senado. E exatamente do mesmo lado tem o Republicanos, que tem investido no lema de que é o “verdadeiro partido conservador do Brasil” e tem o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, disputando o governo e o ex-prefeito Sergio Meneguelli disputando o Senado. As duas legendas disputam o mesmo eleitorado.
Nacionalmente, PL e Republicanos negociam uma dobradinha nos estados para formar um palanque único e fortalecer, assim, a candidatura à reeleição de Bolsonaro. Essa conversa está acontecendo, por exemplo, em São Paulo. Mas, para ser aplicada aqui, encontra resistência dos dois lados, principalmente por parte de Manato e Meneguelli, os dois que o mercado cogita que poderiam ser rifados.
Manato diz ter a palavra de Malta (gravada em vídeo) de que terá legenda para ser candidato ao governo – embora as articulações estejam sendo feitas nacionalmente com a grande possibilidade de acarretarem em decisões de cima pra baixo. Já Meneguelli, até pouco tempo atrás também tinha total garantia do partido de que iria disputar, mas parece que no caso dele, o vento está mudando.
7 – Meneguelli ainda terá legenda para disputar o Senado?
O ex-prefeito Sergio Meneguelli ganhou fama (e muitos seguidores nas redes sociais) por se expor de forma simples (muitas vezes até simplória) na condução do seu mandato à frente do município de Colatina. Seus vídeos plantando flores nos canteiros e ajudando os garis na limpeza pública ou circulando pelas ruas de cidade com sua bicicleta e a camiseta “Eu amo Colatina” rodaram o país. Sua fama chegou a Brasília e ele até teve audiência com Bolsonaro.
E foi exatamente esse seu jeito espontâneo, de falar o que pensa, que o colocou na berlinda. Em entrevista recente ao site ES360, Meneguelli disse não ter nada de conservador – ao programa “De Olho no Poder” ele disse que era um “conservador moderno” –, criticou as bancadas temáticas do Congresso, inclusive a evangélica da qual seu partido faz parte em peso, e defendeu os direitos civis de casais gays, numa postura totalmente oposta ao que reza a cartilha do Republicanos.
Como já era esperado, a liderança nacional do partido reagiu. O presidente Marcos Pereira teria dito que a candidatura de Meneguelli seria inviável, por conta de suas declarações. Longe da coluna querer levantar suspeita sobre o “potencial ofensivo” das falas de Meneguelli à cúpula do partido, mas o fato é que se a candidatura do ex-prefeito for mesmo retirada viria a calhar com as pretensões de aliança entre PL e Republicanos, tratada no item anterior.
Embora seja uma sigla nascida sob fundamentos religiosos e ideológicos, o Republicanos é um dos principais partidos do Centrão, sempre foi bastante pragmático e tem acesso a pesquisas que mostram Meneguelli empatado com o que ocupa hoje primeiro lugar na intenção de voto na disputa à cadeira do Senado (Malta). O Republicanos vai abrir mão da chance de conquistar essa cadeira?
8 – Psol vai pedir votos para Audifax?
Outro impasse no Estado é a relação entre os recém-casados (na delegacia) Rede e Psol. A federação deu sobrevida a muitas legendas que chegarão competitivas à eleição – o que seria muito difícil de ocorrer se estivessem sozinhas –, mas, em alguns casos, trouxe também ruídos e discórdia. É o que acontece no Espírito Santo.
A Rede tem a pré-candidatura ao governo do ex-prefeito Audifax Barcelos. Mesmo pertencendo a um partido de centro-esquerda, Audifax tem perfil e muitos eleitores de centro-direita. Já disse ser evangélico e conservador nos costumes e tem buscado aliados no polo da direita. A candidatura de Audifax já estava colocada antes da formação da federação e ele recebeu, da direção nacional da Rede, a autonomia de não vincular seu projeto ao projeto nacional, ou seja, ele está liberado da obrigação de apoiar o presidenciável escolhido pela federação: o Lula.
Esses pontos vão de encontro aos militantes do Psol que têm certa resistência em apoiar – pedir voto nas ruas, subir no palanque, fazer material casado – o ex-prefeito. Muitos militantes psolistas defendiam uma candidatura própria. Vencido esse debate, a defesa é por apoiar uma candidatura explicitamente de esquerda.
Lideranças nacionais das duas legendas já vieram ao Estado para tentar resolver o impasse. Diálogos continuam. A tendência é que cada um toque a sua candidatura sem forçar o “cônjuge” a nada, até porque Audifax já tem o tempo de TV que almejava para sua campanha e o Psol deve ter também a formação de uma chapa favorável à sua principal aposta, a vereadora de Vitória Camila Valadão, que disputará uma vaga de deputada estadual. É um casamento de fachada, mas que pode até dar certo para os dois lados.
9 – Hartung vai apoiar alguém? Quem?
Desde que deixou o governo e se desfiliou do MDB (2018), o ex-governador Paulo Hartung tem se dedicado ao setor privado e aos debates nacionais. Antes de terminar o prazo de filiações deste ano, PH chegou a ser cotado a se filiar ao PSD e ser o nome do partido na disputa à Presidência da República. Mas engana-se quem acha que ele se desvinculou totalmente da política capixaba. Longe disso.
Nos bastidores, Hartung teria sido um dos maiores entusiastas da possibilidade do superintendente da Polícia Federal, Eugênio Ricas, largar o cargo e concorrer, o que não vingou. Ele também estaria por trás das principais movimentações no PSD local – o que, somado ao fato de não ter conseguido montar uma chapa federal, teria motivado o presidente Neucimar Fraga a deixar a legenda. Hartung também chegou a se reunir com o deputado Sergio Majeski, o incentivando a disputar o Congresso.
Todas essas movimentações, porém, estariam sendo feitas nos bastidores. Publicamente, Hartung tem evitado tratar da política local. Mesmo assim, é grande a especulação no mercado político sobre se o ex-governador vai subir no palanque de alguém e de quem.
Dos nove pré-candidatos ao governo, pelo menos quatro são próximos a Hartung, sendo um desses bastante próximo. São eles: Guerino Zanon (PSD), Audifax Barcelos (Rede), Erick Musso (Republicanos) e Aridelmo Teixeira (Novo). Já questionados pela coluna sobre a possibilidade de ter o apoio de Hartung, ninguém puxa a “bênção” somente para si, mas também ninguém descarta. Pelo contrário, todos a querem, apostando na possibilidade de uma transferência de votos do ex-governador.
10 – Qual polarização vai se impor no ES?
À medida que a eleição se aproxima, muitas lideranças políticas vão se convencendo que, nacionalmente, será muito difícil tirar a disputa presidencial da polarização Lula x Bolsonaro. Nos estados, a leitura é a mesma: o clima de polarização está no ar. Mas aqui no Espírito Santo, quais serão os polos?
Ainda é cedo para afirmar que a polarização nacional irá determinar as eleições capixabas. Porque embora seja forte o bolsonarismo no Estado, o mesmo eleitor que elegeu Bolsonaro em 2018, também elegeu Casagrande em primeiro turno, deixando de fora Carlos Manato, que disputou o governo, e Magno Malta, que tentou a reeleição ao Senado. Os dois eram os nomes do Presidente no Espírito Santo e disputaram num momento em que a onda bolsonarista inundou fortemente todo o país. Hoje, segundo mostram pesquisas, a onda ainda existe, mas está muito mais fraca.
O Espírito Santo pode ter uma polarização esquerda x direita, como deve ocorrer nacionalmente, ou também uma polarização ligada às duas principais lideranças do Estado: o governador Renato Casagrande e o ex-governador Paulo Hartung. E há campo para isso ocorrer se Hartung entrar, com os dois pés, na campanha de um de seus discípulos (conforme citado no item anterior) e se houver uma aliança entre eles.
Hoje, é possível notar no tabuleiro político capixaba a operação de quatro forças: o petismo e o bolsonarismo, como em todo país, mas também o “casagrandismo” e o “hartunguismo”, com novos representantes. Analisando pesquisas recentes, apenas para ilustrar, há possibilidade de Casagrande estar no segundo turno tanto com representantes do petismo, quanto do bolsonarismo ou do hartunguismo. O campo está aberto, resta saber qual embate o eleitor vai escolher.
Fonte: Folha Vitória
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