As estratégias dos candidatos ao governo na escolha dos vices
O último dia de prazo para o registro de candidaturas (15) encerrou com a inscrição na Justiça Eleitoral do empresário Marcus Magalhães, do PSD, como vice na chapa do candidato ao governo do Estado pelo mesmo partido, Guerino Zanon.
Marcus não foi a primeira opção de Guerino, que esperou até o último momento para tentar atrair mais partidos para sua coligação – formada pelo PSD, PMB e DC. Mas a escolha caseira tentou trazer um equilíbrio na majoritária na tentativa de agregar um outro eleitorado.
Como ocorreu também na construção das chapas de outros candidatos ao governo, buscou-se na escolha do vice, ainda que feita em cima da hora, compensar em uma área onde o cabeça de chapa não fosse tão forte ou que não pudesse representar.
Experiência x novidade
Marcus é empresário do ramo de café, tem bom trânsito com o agronegócio, conhece bem o Estado. Nesse sentido é bastante parecido com Guerino, que também é empresário e compartilha dos outros mesmos predicados.
Ao contrário de Guerino, porém, Marcus é neófito na política. Ele foi subsecretário estadual de Agricultura no último governo de Paulo Hartung, mas vai disputar sua primeira eleição – um contraponto à carreira política extensa de Guerino que inclui cinco mandatos de prefeito de Linhares e dois de deputado estadual, sendo também presidente da Ales. Ao colocar um “novato”, Guerino ameniza as críticas do “carreirismo na política” dos eleitores que buscam renovação nas eleições.
Na mesma toada foi a escolha de Manato, ao apresentar o também estreante Bruno Lourenço, 39. Empresário há 15 anos do ramo de importação e exportação, Bruno nunca disputou uma eleição, embora seja presidente estadual do PTB e tenha apoiado Manato na disputa de 2018.
Ele também não foi a primeira opção de Manato, que chegou a cogitar ter um militar em sua chapa ou entregar a vice a outro partido que conseguisse atrair. Mas ao anunciar Bruno, Manato mesmo avaliou que parte dos militares já o apoia, tendo em vista a identificação com o bolsonarismo, e que pesou para ele colocar um nome que conversasse melhor com o empresariado, principalmente com os jovens empresários.
Manato tem também uma ficha extensa na política: foi deputado federal por quatro mandatos consecutivos – sendo corregedor da Câmara Federal –, foi secretário na Prefeitura da Serra e atuou como assessor especial da Casa Civil no início do governo Bolsonaro.
Direita x esquerda
Após a aliança nacional com o PT – reproduzida nos estados – e a declaração de voto em Lula, o governador Renato Casagrande (PSB) escolheu Ricardo Ferraço (PSDB) para ser seu vice. Primeiro porque ele precisava assegurar a presença da federação PSDB/Cidadania em sua chapa. Resolução assinada pelos dois partidos antes das convenções dava conta de que eles só apoiariam o candidato que os proporcionasse participar da chapa majoritária. Foi uma forma também de contemplar parte de sua frente ampla (um partido grande + um partido aliado de primeira hora).
Mas, a escolha do PSDB para ocupar o posto de vice tem também como objetivo “puxar” a chapa mais para a centro-direita, abrir as portas para o diálogo com empresários e conquistar o eleitorado que até vê o governador com bons olhos, mas que não engole a aliança com o PT. Mesmo antes de ser firmada a coligação, o presidente do PSB-ES, Alberto Gavini, já avaliava que o vice ideal para Casagrande seria alguém com perfil mais ligado à centro-direita. Ricardo cumpre esse papel.
Além disso, há ainda nos bastidores burburinhos de que Ricardo pode ser preparado para suceder Casagrande na eleição de 2026. Isso, claro, se a dupla vencer a eleição de outubro. A chapa ainda conta com a senadora Rose de Freitas, que ao apresentar suas suplentes, deu o tom de que vai mirar as mulheres na conquista dos votos.
A chapa do candidato ao governo Audifax Barcelos, 58, também cumpre o mesmo propósito na busca pelo mesmo equilíbrio. Audifax faz parte da Rede, que é um partido de centro-esquerda. Nacionalmente, a Rede federou com o Psol, também da esquerda. As duas legendas, nacionalmente, declararam apoio a Lula e, embora, Audifax evite nacionalizar o debate, há eleitores que veem a questão partidária como um impedimento (ou incentivo) para votar em determinado candidato.
O ex-prefeito da Serra não se envolve em debates ideológicos, mas sabe o peso que isso pode trazer à sua campanha. É por isso que o mercado político tem lido que a escolha de uma jovem militar – Tenente Andresa (SD), 35 anos – para compor sua chapa como vice foi uma estratégia para aliviar o “fardo” que a polarização nacional pode trazer à disputa.
Andresa tem perfil conservador, como também declarou ter Audifax e o escolhido por ele para o apoio ao Senado: Pastor Nelson Júnior (Avante). É uma tentativa de trazer o voto do eleitorado religioso, do conservador, dos militares e das mulheres de direita.
Gênero, raça e idade
Mesmo nas chapas menores, puro-sangue e mais ideológicas é possível ver uma busca por equilíbrio etário, de gênero e raça.
Na chapa marxista do PSTU, o Capitão da PM Vinícius Sousa, 38, negro, escolheu a jornalista aposentada e estudante universitária de Ciências Sociais Soraia Chiabai, 62, branca. O partido não fez coligação.
No liberal Partido Novo, que também vai enfrentar as urnas sozinho – já que a sigla tem como tradição não coligar com nenhuma outra –, o empresário Aridelmo Teixeira, 57, branco, disputa o governo com a jornalista Camila Domingues, 51, parda, na chapa como vice.
Já o administrador e terapeuta Cláudio Paiva (PRTB), 62, escolheu um advogado para ser seu vice – Marco Aurélio, 44, também do PRTB – e com um objetivo bem claro: “Não coloquei um empresário rico do meu lado para me dar dinheiro pra campanha. Coloquei um advogado porque vamos ter problemas jurídicos com certeza. O pessoal entra na Justiça por qualquer coisa. Fala ‘A’ entra na Justiça, fala ‘B’, entra na Justiça. Então, eu preciso ter um jurídico do meu lado”, disse Paiva, que defende bandeiras da direita e promete “causar” nessa eleição.
Fonte: Folha Vitória
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