Debate na Assembleia: Desafios e Estratégias no Combate ao Racismo

Debate na Assembleia: Desafios e Estratégias no Combate ao Racismo

Para o professor Gustavo Forde, o racismo se manifesta hoje em múltiplas dimensões e combatê-lo exige, portanto, “confrontar o modo de valores do próprio Estado

Os desafios e perspectivas de enfrentamento do racismo no século XXI foram assuntos da audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Ales na noite de terça-feira (21), no Plenário Dirceu Cardoso. A vice-presidente do colegiado, deputada Iriny Lopes (PT), coordenou o debate, que contou com a participação dos professores Gustavo Henrique Araújo Forde e Ilona Açucena.

Gustavo Forde é doutor em educação e professor do Centro de Educação da Ufes, onde atua na área de educação das relações étnico-raciais. Ilona Açucena é enfermeira, conselheira de saúde de Cariacica, educadora popular em saúde e mestranda em saúde coletiva pela Ufes. Duas atrações culturais foram apresentadas: dança, com Renato Santos; e musical, com Antiwill3000 (Guilherme Sabino).

Na abertura do evento, Iriny afirmou que “o país tem que se livrar dessa praga que faz sofrer, e o mundo todo deve se distanciar e apagar esse tipo de diferença medida pela cor da pele.” Segundo ela, “as diferenças são criadas para justificar que meia dúzia de pessoas possam mandar em milhões, determinando como elas viverão.”

Iriny destacou a importância de dar visibilidade ao tema, sobretudo em novembro, Mês da Consciência Negra. “Muitos pensadores hoje falam mais sobre este assunto, porque há uma retomada forte que não víamos desde meados do século passado, por disputa de hegemonia ideológica no mundo. A violência hoje está banalizada, e vemos isto todos os dias na mídia”, disse. Ela defendeu que haja “mudança e transformação, principalmente no racismo estrutural contra as minorias”.

Palestras

O professor Gustavo Forde abordou as raízes históricas do racismo, suas manifestações na contemporaneidade e os embates travados no seu enfrentamento. “O século XXI chegou há duas décadas e com ele vieram outras formas de manifestação do racismo, exigindo novas técnicas para enfrentar isso. O racismo se manifesta em múltiplas dimensões: econômica, religiosa, cultural, saúde etc. É algo sistêmico na sociedade e combater o racismo é confrontar o modo de valores do próprio Estado”, disse.

Para Forde, “apesar de muitas conquistas, a tradição colonial e escravocrata são obstáculos para se combater efetivamente o racismo, e a sua superação passa por uma ampla reflexão de alguns conceitos dos movimentos negros que são utilizadas de forma ampla, mas tenho dúvida se são usados de forma correta, como ferramenta de luta política, e cito o racismo estrutural como um conceito banalizado, que perde a força.”

O professor destacou o pertencimento negro como conquista que trouxe novos ativistas para a causa. “Se o movimento negro ainda não é de massa, a consciência negra está sendo fundamental atraindo novos atores para a luta”, afirmou.

Ele também apontou formas de enfrentamento: “Para começar a superar o racismo, temos que começar a discutir o orçamento estadual, com projetos para criar referências técnicas, como a saúde para a população negra. Se existe racismo nas instituições, é necessário judicializá-las, pois elas têm gestores responsáveis, e por isso o racismo estrutural não ajuda.”

Em relação a investimentos, a professora Ilona Açucena ressaltou o orçamento público destinado à saúde. Segundo ela, o Espírito Santo é o penúltimo município a programar a política nacional de saúde para a população negra.

Ela ressaltou também sobre o posicionamento a favor da educação: “A tomada de consciência é necessária para combater o racismo no século XXI, lutando sempre pela política de cotas no ensino superior, e a atual lei de cotas é uma vitória do movimento negro. Os índices de pobreza da população negra refletem as desigualdades sociais no racismo estrutural”, opinou.