Os obstáculos enfrentados por Roberto Carlos (PT) na corrida pela prefeitura da Serra
Talvez a maior dificuldade para fazer vingar sua pré-candidatura esteja dentro do próprio PT, ou, para ser preciso, nos escalões superiores do partido
O ex-deputado estadual Roberto Carlos Teles Braga (PT) lançou no último sábado (11) sua pré-candidatura a prefeito da Serra. A postulação do petista, hoje assessor do senador Fabiano Contarato (PT), nasce cercada de algumas dificuldades e dúvidas. A maior delas é exatamente se Roberto Carlos conseguirá se viabilizar e registrar sua candidatura.
O primeiro senão diz respeito à competitividade do pré-candidato. Esse “pé atrás” não tem a ver apenas com a musculatura política e o desempenho pessoal do próprio Roberto Carlos… mas também tem a ver com isso. Após uma primeira década promissora de carreira política e três mandatos parlamentares em sequência (dois na Câmara da Serra, de 2005 a 2010, e um na Assembleia Legislativa, de 2011 a 2014, fazendo parte da Mesa Diretora), o ex-deputado acumula três reveses eleitorais.
Em 2014, foi para o sacrifício: na eleição ao Palácio Anchieta, espremido entre Paulo Hartung (o vencedor) e Casagrande, não passou de 6% dos votos válidos. Depois disso, em duas campanhas seguidas a deputado estadual, em 2018 pela Rede e em 2022 já de volta ao PT, não conseguiu retornar à Assembleia.
Na pesquisa eleitoral da Futura Inteligência publicada na semana passada pelo jornal online Folha Vitória, ficou evidente o baixo recall político do pré-candidato do PT. Na espontânea, ele foi citado como opção de voto por 0,3% dos entrevistados. Na estimulada, no melhor cenário para ele, não foi além de 3,1%. É bem verdade que a sondagem foi realizada em princípios de abril, mais de um mês antes do lançamento de sua pré-candidatura.
A empreitada de Roberto Carlos também parece nascer com poucas chances de triunfo porque ele se mete em um páreo que já tem três pesos-pesados. O primeiro é o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP), sempre vivo na memória coletiva dos serranos. O segundo é o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos), inegavelmente popular.
O terceiro “peso-pesado” é o atual prefeito, Sérgio Vidigal (PDT). Se ele voltar atrás em seu anúncio e decidir buscar a reeleição, é, naturalmente, um candidato fortíssimo. Se mantiver seu plano de apoiar Weverson Meireles (PDT), este entra na luta como um peso-pena, mas, como o candidato da máquina e do prefeito, tem potencial para ganhar grande musculatura eleitoral no decorrer da campanha – ou seja, pode virar também ele um peso-pesado com as injeções de anabolizante político que o Doutor Sérgio lhe aplicará.
Nesse contexto, talvez a maior dificuldade de Roberto Carlos para fazer vingar sua pré-candidatura seja de ordem doméstica: pode estar dentro do próprio PT, ou, para ser mais preciso, nos escalões superiores do partido. Por resolução da Executiva Nacional, a palavra final sobre todas as pré-candidaturas majoritárias do PT nas cidades com mais de 100 mil eleitores não cabe à direção municipal, nem mesmo à Executiva Estadual, mas à cúpula nacional do partido de Lula e Gleisi Hoffmann. Isso significa que a manutenção ou não de Roberto Carlos no páreo dependerá de uma análise fria dos capas-pretas sobre onde vale a pena ou não investir política e financeiramente.
Hoje, o PT ostenta candidatura própria à prefeitura nos quatro maiores municípios do Estado, concentrados na Grande Vitória: além de Roberto Carlos na Serra, tem Babá (Vila Velha), Célia Tavares (Cariacica) e João Coser (Vitória). Este último é, disparadamente, o que se mostra mais competitivo, e não é segredo para ninguém que os dirigentes do partido em nível estadual e nacional têm o retorno de Coser ao governo da capital capixaba como a prioridade no Espírito Santo, quiçá na Região Sudeste – até porque, nas quatro capitais da maior região do país, o deputado é hoje o único candidato petista com chances de vitória.
Ah, ainda tem a pré-candidatura de Carlos Casteglione em Cachoeiro, maior cidade do sul do Espírito Santo.
Fica difícil imaginar a manutenção de Coser, Babá, Célia, Roberto Carlos e Casteglione no mesmo processo eleitoral considerando não só as questões de estratégia política – manter candidaturas próprias em todas as maiores cidades limita muito as possibilidades de alianças e expansão da coligação e do tempo de TV de Coser –, mas até mesmos questões de ordem mais prática – e a divisão do Fundo Eleitoral para tantos candidaturas? É possível que alguém tenha de recuar e adiar o projeto eleitoral.
Esse alguém não será Roberto Carlos… ao menos não no que depender dele. Na última segunda-feira (13), o pré-candidato deu entrevista ao nosso telejornal EStúdio 360. E foi enfático: “Sou candidatíssimo”. Na sabatina, o ex-deputado foi confrontado com todos os possíveis obstáculos relacionados acima. Afirmou porém que, na verdade, conta com apoio e garantias até da direção nacional do PT.
“Estive em Brasília, conversando com o senador Humberto Costa, e ele garantiu que vai fazer a defesa do nosso nome, até porque, se não tiver candidatura do PT na Serra, ninguém vai defender o legado do presidente Lula.”
O ex-deputado ratifica a prioridade dada à eleição de Coser em Vitória: “Nacionalmente falando, o PT tem prioridades. E o João [Coser] é o único candidato do PT nas capitais da Região Sudeste que é competitivo. Em São Paulo, vamos apoiar o companheiro Boulos. No Rio de Janeiro, provavelmente o PT vai apoiar o atual prefeito, Eduardo Paes. E em Belo Horizonte parece que vai ter uma candidatura, mas não performa como o João está performando em Vitória. Então, de fato é uma prioridade nacional”.
No entanto, Roberto Carlos pondera que o fortalecimento da candidatura de Coser não acarretará a retirada de outros pré-candidatos do PT, como ele. Segundo o ex-deputado, o contexto político nacional agora é outro, reorientado pela intensificação da polarização ideológica nos últimos anos entre a esquerda, representada principalmente por Lula, e a direita – particularmente, a direita bolsonarista.
Como o principal adversário do PT, hoje, é o bolsonarismo, a direção do partido está priorizando desta vez o lançamento de candidatos próprios em todas as cidades estratégicas, mesmo que não tenham altas chances de vitória. Em muitos casos – e parece ser o de Roberto Carlos –, a prioridade não é chegar à prefeitura, mas defender o governo Lula e seu legado contra eventuais ataques de candidatos bolsonaristas. A missão não é ganhar. É representar e defender o PT. Vale lembrar que a Serra tem um candidato bolsonarista, o vereador Igor Elson (PL), e um simpatizante de Bolsonaro, o deputado estadual Muribeca.
Após ter lutado muito para voltar ao governo central em 2022, o PT não quer de jeito nenhum tornar a perdê-lo para a direita (ou, pior, para a extrema-direita). Por isso, considera fundamental voltar a se fortalecer e reanimar as bases sociais nas maiores cidades (e a Serra é a maior do Estado), tendo em vista as próximas eleições gerais, daqui a dois anos. O pleito municipal deste ano é escala preparatória para 2026.
Em um estado como este, isso se faz ainda mais importante: historicamente, o Espírito Santo não é um “estado de direita” (para ficar em um exemplo, nunca elegeu um governador declaradamente de direita, dos anos 1980 para cá). Uma assertiva como essa é, no mínimo, precipitada. Mas não há dúvidas de que, nos últimos pleitos, as urnas têm emitido fortes sinais de uma tendência nessa direção: em 2018, no Espírito Santo, Bolsonaro derrotou Haddad por 63% a 37%; em 2022, o então presidente venceu Lula por 59% a 41%.
“O que no passado a gente chamou de geopolítica, de arranjos para os municípios da Grande Vitória, esse cenário não está mais posto. Até porque, polarizada a política sempre foi, mas a política se radicalizou. E alguns parceiros históricos do PT se afastaram do partido por conta dessa radicalização, principalmente aqui no Espírito Santo. É comum as pessoas dizerem ‘o Espírito Santo é um estado bolsonarista’, ‘o Espírito Santo é um estado conservador’. Eu não sou dessa tese. O Espírito Santo já elegeu um governador negro [Albuíno Azeredo], já elegeu um governador do PT [Vitor Buaiz], Vitória já elegeu mais de um prefeito do PT. Agora, é claro que o ex-presidente [Bolsonaro] ganhou as eleições aqui. O que a gente vê são alguns parceiros históricos se afastando do PT. Para mim, isso é ruim do ponto de vista do enfrentamento com a direita e da extrema-direita, mas, do ponto de vista da eleição da Serra, isso é algo positivo”, formula Roberto Carlos.
Por quê?
“Porque não ter parceria política vai reafirmar aquilo que a gente sempre quis: a oportunidade de o PT governar a cidade da Serra. Então, dessas quatro candidaturas [na Grande Vitória], eu garanto para você: a nossa candidatura está firme e só não vai se convalidar se houver algum arranjo nacional, coisa que eu não acredito, ou se a gente for derrotado em convenção.”
Roberto Carlos verbaliza que sua candidatura cumprirá esse papel de defender, ainda que isoladamente, o governo Lula, algo que, ele duvida muito, será feito pelo candidato do PDT, por mais que o partido de Vidigal esteja dentro do governo Lula:
“O Lula perdeu por 17 mil votos na Serra. Você acredita que um candidato do PDT vai assumir esse ônus de fazer a defesa do governo Lula? ‘Ônus’ que eu digo é para eles, porque para nós não é ônus. Nós vamos fazer a defesa do presidente Lula com todo o orgulho, pois sabemos que as políticas públicas que estão sendo implementadas pelo governo Lula mexem com as estruturas sociais do país e da nossa cidade. Então eu não acredito que, sem uma candidatura do PT, terá Lula, terá governo do PT na eleição da Serra, muito pelo contrário, vai ter crítica da extrema-direita e ninguém para defender”.
A aliança histórica com o PDT
Outro obstáculo para Roberto Carlos pode ser, no termo usado por ele mesmo, de ordem “geopolítica”. No Espírito Santo, a prioridade absoluta para o PDT de Vidigal é manter a Prefeitura da Serra. O PDT é um parceiro histórico do PT não só no plano federal – novamente com lugar na Esplanada dos Ministérios no governo Lula – como no Espírito Santo e na própria Serra.
Pelas contas do próprio Roberto Carlos, desde o primeiro governo de Vidigal, de 1997 a 2000, até o último de Audifax, encerrado em 2020, o PT ocupou nada menos que 20 secretarias municipais. Ele mesmo, se bem que na Rede, foi secretário de Geração de Trabalho, Emprego e Renda da Serra em 2019, na última gestão de Audifax. O PT não está organicamente na atual administração de Vidigal, mas o ex-vereador do partido Aécio Leite, segundo Roberto Carlos, tem cargo na prefeitura, e a vereadora petista, Elcimara Loureiro, é da base do prefeito.
Assim, não é absurdo pensar que, por arranjos estaduais e nacionais, o PDT pode cobrar apoio do PT na Serra – em troca, por exemplo, de eventual apoio do PDT a Coser em Vitória, o que implicaria sacrificar a candidatura de Roberto Carlos na Serra em troca da retirada do ex-deputado Sergio Majeski (PDT) em Vitória.
Roberto Carlos afirma, no entanto: hoje, no Espírito Santo, PT e PDT “são aliados, pero no mucho”. Ele faz questão de lembrar, por exemplo, que Vidigal votou a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), em abril de 2016, como deputado federal.
“Historicamente, a gente marchou com o PDT e com o PSB na cidade. Eu sempre defendi que o PT tivesse um projeto próprio na Serra, mas sempre reconheci a necessidade dessas alianças. Nesta eleição, não foi possível uma aliança com o PDT, então eu defendi candidatura própria. Teve companheiros que defenderam uma aliança. Mas não houve caminhos para uma aliança, então agora está acontecendo aquilo que sempre almejei: o PT tem uma candidatura, uma candidatura competitiva. Vamos apresentar uma proposta para a cidade, até porque somos partícipes da construção dessa cidade”, afirma Roberto Carlos.
Fonte: ES360
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