Padrão de consumo e meio ambiente em pauta

Padrão de consumo e meio ambiente em pauta

Professor Renato Ribeiro aponta que o modelo de produção e consumo interfere na qualidade de vida da população

Na relação entre o consumo e a produção, o consumidor não é o protagonista. Esse papel cabe ao mercado movido pela ação do marketing e a criação de desejos de consumo, garantiu o coordenador do Laboratório de Gestão de Saneamento Ambiental (Legesa) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), professor Renato Ribeiro Siman.

“Antigamente, o consumo determinava, hoje em dia, o padrão de consumo no mundo moderno globalizado, integrado, o consumidor não tem capacidade de escolha. No passado, o consumo determinava a produção. Hoje, não segue aquela balança em que se produz mais porque vende mais. A produção, agora, é que determina o consumo”, analisou.

As atividades de consumo e produção e os danos causados ao meio ambiente foram debatidos dentro do 12º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um dos 17 instituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, tema da palestra promovida pela Escola do Legislativo da Assembleia Legislativa (Ales), por meio do projeto Conexões Sustentáveis – Agenda 2030 em Debate. O encontro aconteceu na última quinta-feira (23), no Auditório Hermógenes Lima da Fonseca da Ales.

Para o pesquisador da Ufes, muito além do consumo exagerado da sociedade hoje em dia, há uma defasagem entre a geração e descarte de embalagem e o processo de reciclagem. Os níveis de material aproveitado não passam de 1,6% do total descartado nas cidades. Vitória atinge, hoje, 1,8%. “A quantidade de tipos de plásticos e a quantidade de produtos existentes de plásticos cresceu quase 20 vezes desde os anos 1940. Como é que vivíamos sem plásticos antigamente? E vivíamos muito bem!”, comentou Siman.

O próprio Plano Nacional de Resíduos Sólidos, lançado pelo governo federal em 2010, prevê a logística reversa e responsabilidade compartilhada entre sociedade, indústria e poderes públicos. No entanto, observou Renato Siman, a realidade é que, apesar das leis, estamos muito aquém das necessidades de recolhimento adequado do material reciclado produzido pelo consumidor.

Siman defende a aplicação do Plano de Ação para a Produção e Consumo Sustentáveis no Brasil, lançado em 2011. Entre as medidas a serem adotadas ou aperfeiçoadas estão a educação para o consumo sustentável, varejo e consumo sustentável, aumento de reciclagem, compras públicas sustentáveis, construções sustentáveis e uma agenda ambiental na administração pública.

Ao final, o palestrante apontou a necessidade urgente de se construir a cultura do consumo e produção responsáveis para assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis, pois os limites ambientais planetários estão ultrapassados. Conforme apontou, a humanidade está utilizando a natureza na proporção de 1,7 vez mais rápida que sua capacidade de regeneração.