Saúde Mental Infantojuvenil é Tema de Debate na Frente Parlamentar
Durante reunião, especialistas apontaram medidas de cuidados desse grupo com base na rede de atenção psicossocial
O fortalecimento de uma rede de atenção à saúde mental para o público infantojuvenil que consiga atender as demandas sem a necessidade de institucionalização desses jovens e com foco na participação social. Esse foi o tema debatido por especialistas e representantes de entidades durante reunião promovida na Assembleia Legislativa (Ales) nesta sexta-feira (10).
O encontro foi uma iniciativa da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Mental e da Luta Antimanicomial, presidida por Camila Valadão (Psol), que relembrou as conquistas na área e pontuou os desafios, como a elaboração de políticas públicas atualizadas. A parlamentar criticou as recorrentes propostas legislativas em todo o Brasil que veem na internação a saída para o problema.
Segundo a professora Maria Cristina Ventura Couto, a estruturação de um modelo de cuidados com a saúde mental desse público-alvo é um movimento considerado recente, com início no século 21. Ela afirmou que até poucos anos atrás, em um período classificado por ela como de retrocesso, crianças e jovens acabaram sendo segregados por conta das políticas públicas da época.
Apesar de reconhecer avanços no atendimento ao longo do anos, como a criação dos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (Capsi), a pesquisadora com atuação na área há 38 anos afirmou existirem inúmeros obstáculos, destacando a fragilidade da formação de operadores psicossociais. “Isso é uma obrigação do SUS”, atestou a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Associado a isso, a convidada pontuou o silenciamento imposto a esses jovens no decorrer do tempo e a subvalorização das suas manifestações (menorismo) como fatores que contribuíram para justificar políticas de saúde mental com soluções simplificadas, como a institucionalização e internação. “São elementos imprescindíveis para a institucionalização de crianças e adolescentes”.
Escuta
Doutora em Educação Especial e pesquisadora no campo de Saúde Mental voltada para jovens, Bruna Lidia Taño cobrou mais atenção direcionada a esse público-alvo. “A gente precisa ouvir as crianças e adolescentes, com elas, e não sobre elas, cuidar e refazer os nossos pactos de convivência e política a partir desse encontro com elas”, sugeriu.
“Quando a gente não assume incompletude institucional como constitutiva das políticas, a gente deixa que a psiquiatria e institucionalização assumam essa completude forçada na patologização e criminalização das vidas”, argumentou. A pesquisadora apontou como saída a atuação em duas frentes: a prevenção e a abordagem pedagógica e terapêutica (hibridismo assistencial).
Modelo de atenção
Representante do Capsi da Serra, Camila Mendes revelou que de julho de 2017 até 2 de maio, a unidade fez 3.782 acolhimentos. Além disso, contou que 404 crianças e adolescentes são acompanhados no local – 55% deles com diagnóstico de autismo. Uma das preocupações apontadas por ela é com a atuação ambulatorial do centro, que, segundo ela, tem uma demanda “explosiva” e que vem “de encontro” ao trabalho da atenção psicossocial.
Esse modelo foi defendido por Ellen Franck, adolescente de 14 anos que relatou sofrer com depressão profunda e ansiedade desde os 11. Ela explicou como a terapia ocupacional oferecida no Capsi ao longo desses quase quatro anos ajudou no tratamento por meio da arte. Hoje ela achou na poesia uma maneira de se manifestar. “Não é só o medicamento que faz as pessoas melhorarem”, relatou.
Ellen disse ter sofrido com preconceito na escola, onde foi alvo de bullying, e defendeu que a ausência de “meios de atendimento” atrapalham a busca pelo tratamento. Ela cobrou mais recursos e estrutura para os Caps. “A saúde mental no Brasil não é priorizada, todos nós aqui sabemos disso”, considerou, ao alertar para a falta interesse de muitos municípios para esses investimentos.
A deputada Camila Valadão revelou que tem cobrado junto à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) a construção de mais Centros de Atenção Psicossocial, mas foi informada que o desafio é os municípios demonstrarem interesse, mesmo com financiamento da pasta. Segundo ela, os Caps se tornaram “equipamentos não desejados nos munícipios”.
A reunião contou com a presença da promotora de Justiça do Ministério Público do Estado (MPES) Jessika Luz; da subsecretária de Políticas para a Juventude da Secretaria de Estado de Direitos Humanos (SEDH), Carolina Cyrino; da defensora pública Adriana Peres, entre outros.
Fonte: Assembleia Legislativa
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