TRINCHEIRA TROPICAL

TRINCHEIRA TROPICAL

Por Luiz Paulo Vellozo

O escritor Ruy Castro, colunista da Folha de São Paulo e acadêmico da Academia Brasileira de Letras, lançou neste mês o livro “Trincheira Tropical: A Segunda Guerra Mundial no Rio de Janeiro”, um romance histórico sobre a política brasileira ambientado na então capital da república. Getúlio Vargas se equilibra entre as potencias do eixo, Alemanha, Itália e Japão de um lado e os aliados Estados Unidos, França e Inglaterra de outro. Vargas derrota duas tentativas de golpe, as intentonas, dos comunistas em 1935 e dos integralistas em 1937 e implanta o Estado Novo, uma ditadura fascista tropical.

      Desfilam na obra prima de Ruy Castro personagens do mundo da política, da cultura, da economia e do jornalismo do Brasil e do mundo com sua magistral habilidade de biógrafo. A politica brasileira, moldada pela tirania do Estado Novo e pelo culto a personalidade de Getúlio Vargas, emoldura a paisagem social do Rio de Janeiro.

O Brasil entra na guerra ao lado dos aliados, inclusive enviando 25 mil soldados para o front. Depois da vitória militar, os pracinhas da FEB trazem na bagagem de volta da Europa a demanda por democracia, uma obra ainda hoje imperfeita e desafiada.

O embate entre o comunismo, o fascismo e a democracia é a história principal do livro de Ruy Castro, misturado com as mudanças de hábitos provocada pela guerra e pela modernização forçada do Brasil. Esta disputa se reflete na literatura, no jornalismo, na música, no teatro e no cinema produzidos no país e vindos de fora sob a onipresente máquina de propaganda do DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda de Getúlio Vargas.

A morte de 587 passageiros de seis embarcações atacadas pelo submarino alemão U-507 na costa brasileira enfureceu a opinião pública que já se manifestava a favor da entrada do Brasil na guerra contra a Alemanha e o eixo. Getúlio aproveita para jogar ao mar os principais germanófilos do núcleo duro do governo, Filinto Muller Chefe de Polícia e Lourival Fontes do DIP e sair fortalecido politicamente com a mudança radical de alinhamento.

Não há como deixar de fazer um paralelo com os tempos de radicalização vividos atualmente. A principal palavra de ordem dos integralistas era “Deus, Pátria e Família” e os jornais censurados proibiam toda e qualquer menção crítica ao governo.

O populismo e a ambiguidade politica de Getúlio Vargas, bem como o culto a personalidade por todos os meios disponíveis afim de torna-lo adorado pela população mais pobre, também fizeram escola no Lulopetismo moderno. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

O livro nos relembra e ilustra como a democracia liberal se parece frágil quando enfrentada pelo comunismo de um lado e o fascismo de outro. Mostra como é difícil não pender para um dos lados quando a radicalização extremista domina a cena.

Conta também que a democracia brasileira não era projeto das elites mas nasce da vitória dos aliados nos campos de batalha europeus e se torna um movimento irreversível na sociedade. O comunismo foi derrotado militarmente e domesticado para aceitar a democracia e o fascismo, experimentado nas ditaduras do Estado Novo e do regime militar de 1964, também não conseguiu ser hoje ressuscitado pela extrema direita das redes sociais.

O livro de Ruy Castro, fruto de seis anos de pesquisa, é uma leitura obrigatória, principalmente para  reforçar a crença na democracia e no Brasil e para quem quer um pais livre de radicalização e populismo. Sem Lula e sem Bolsonaro.