Fala de Lula sobre Israel repercute em sessão

Fala de Lula sobre Israel repercute em sessão

Presidente comparou ação de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus durante o Holocausto; declaração gerou crise diplomática

Vários deputados se manifestaram na sessão plenária desta segunda-feira (19) sobre declaração do presidente Lula (PT) em entrevista coletiva na África a respeito das ações do governo israelense na Faixa de Gaza, no conflito contra o Hamas. O chefe de Estado comparou as ações do primeiro-ministro daquele país, Benjamin Netanyahu, com as atrocidades do Holocausto nazista comandado por Adolf Hitler.

Callegari (PL) afirmou que, ao fazer a declaração, Lula estaria “enxovalhando” a tradição da diplomacia brasileira herdada do Barão de Rio Branco, reconhecida como uma das mais influentes do hemisfério ocidental.

“E o pior: ele (Lula) coloca em risco a soberania nacional, já que o que fez foi um ato de guerra contra o Estado de Israel, daí porque forças da oposição estão pedindo o impeachment dele”, acrescentou.

Fotos dos trabalhos em plenário

Lucas Polese (PL) disse que é “repugnante” comparar com o Holocausto nazista as consequências de uma guerra que se iniciou por meio de ataque feito pelo Hamas. “Esses terroristas invadiram as casas das pessoas em Israel, matando, sequestrando crianças, esposas, queimando pessoas”, citou.

O deputado do PL ainda considerou absurdo comparar os ataques de Israel com as ações empreendidas por Hitler, pois, conforme disse, palestinos não são mandados para campos de concentração nem para laboratórios de experimentos científicos.

Lucas Polese cobrou de Lula posicionamento sobre a morte do líder russo Alexei Navalny, opositor de Vladimir Putin, ocorrida na sexta-feira (16). Ele estava preso desde 2021 e morreu no presídio após voltar de um tratamento médico na Alemanha. Há suspeitas na comunidade internacional de que Navalny foi morto a mando de Putin.

“Para este caso (morte do russo) ele (Lula) pede prudência, diz que é preciso ter calma antes de acusar. Mas para chamar judeu de nazista não há calma”, comentou.

O correligionário de Polese e Callegari, Capitão Assumção considerou que o presidente da República ofende o povo judeu ao fazer a declaração, desmerecendo o que o povo de Israel sofreu com mais de 6 milhões de vítimas durante o Holocausto.

Assumção pontuou ainda que o Holocausto não vitimou apenas os judeus, já que matou mais de 220 mil ciganos, além de exterminar também pessoas com deficiência, homossexuais, prisioneiros políticos, Testemunhas de Jeová, eslavos, afrodescendentes e dissidentes religiosos.

“Entrei com uma nota de repúdio e estou endossando pedido de impeachment por crime de responsabilidade que será encaminhado à Câmara dos Deputados”, anunciou. Capitão Assumção também parabenizou Benjamin Netanyahu por declarar Lula persona non grata (não bem-vinda) em solo israelense.

Defesa de Lula 

Coube à deputada petista Iriny Lopes manifestar a primeira reação na tribuna contra as criticas feitas ao presidente Lula por comparar as ações de Netanyahu ao Holocausto promovido por Hitler.

Ela considerou “gigantesco” o posicionamento do presidente, e afirmou que não se está falando de diplomacia porque ela (a diplomacia) acabou. “Estamos tratando de uma guerra, Lula falou para o mundo que não dá mais. Netanyahu empurrou um pedaço enorme dos palestinos para Rafah e agora avisou ao mundo que vai atacar Rafah”, afirmou Iriny, comparando a situação com a de um abatedouro de gado.

Ela advertiu que os palestinos mandados para a cidade de Rafah, na Faixa de Gaza, serão exterminados dentro do ventre das mães, e morrerão também os pais, os avós e todos os familiares. “A fala do presidente Lula foi corajosa. O mundo vai continuar assistindo isso calado?”, questionou.

Camila Valadão (Psol) parabenizou o presidente pela “declaração corajosa” sobre o “genocídio” promovido por Netanyahu contra os palestinos. A deputada avaliou que a posição do Brasil tem peso internacional e manifestou esperança de que a declaração de Lula leve outros países a se posicionarem contrários ao que ela considera genocídio praticado pelo primeiro-ministro israelense.

“Já são mais de 30 mil mortes, a maioria crianças e mulheres inocentes. Trata-se de uma limpeza étnica. Saúdo também a iniciativa de Lula de  chamar o diplomata brasileiro”, acrescentou a deputada defendendo cessar-fogo imediato no conflito e o corte de relações diplomáticas e comerciais dos países “civilizados” contra Israel.

Fraternidade 

João Coser (PT) disse que enquanto muitos estavam indo à tribuna falar de guerra ele queria falar de paz, citando participação recente no lançamento deste ano da Campanha da Fraternidade pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entidade ligada à Igreja Católica.

O parlamentar explicou que o lema deste ano da campanha é “Vós sois todos irmãos e irmãs”, sendo que a ideia é promover o diálogo entre os diferentes numa sociedade radicalizada pela polarização política.

“O tema deste ano busca resgatar as relações sociais, familiares e de amizade. Essas relações estão morrendo com a polarização política, com a indiferença, a individualidade, com as guerras e o ódio, isso não colabora para uma sociedade humana”, refletiu.

Coser defendeu que no Brasil as pessoas precisam voltar a pensar menos em si e mais no coletivo, se importar com o sofrimento do outro, e que a polarização política está alimentando a indiferença com os que passam por problemas.

Ele disse que até pouco tempo o Brasil não era um país com características sectárias, que o amor prevalecia entre as pessoas, mesmo entre as que tinham ideias diferentes.

“Esta Campanha da Fraternidade é um momento de reflexão entre os irmãos brasileiros, é preciso superar as barreiras sociais e ampliar os círculos de amizade”, defendeu.