Estudo sobre uso de telas em ambiente escolar em análise na Ales
Proposta surge a partir de audiência da Comissão de Justiça que debateu as consequências da exposição excessiva de jovens aos dispositivos tecnológicos
A proibição do uso de telas por estudantes nas escolas foi tema de audiência pública promovida pela Comissão de Justiça na tarde desta quarta-feira (10) na Assembleia Legislativa (Ales). O debate girou em torno dos malefícios comprovados, em especial, nas crianças e adolescentes, por causa do uso excessivo de aparelhos tecnológicos.
Na abertura dos trabalhos o presidente do colegiado, deputado Mazinho dos Anjos (PSDB), explicou que já vinha estudando o tema porque possui três filhos pequenos. “Eu vejo como muda a personalidade das crianças quando você entrega o celular na mão delas e depois quando você tira. Causa irritabilidade, agressividade, gritam, é uma transformação da criança”, salientou.
Ele destacou que tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei (PL) 246/2024, do Pastor Sargento Isidório (Avante-BA), que proíbe o uso indiscriminado de celulares e outros dispositivos eletrônicos pelos alunos nas unidades escolares públicas e privadas do Brasil.
“O Rio de Janeiro já regulamentou o uso de celulares nas escolas do município. A Suécia desistiu da educação 100% digital e vai voltar a investir milhões em livros impressos”, disse. Citou, ainda, que outros países estão indo pelo mesmo caminho, como Holanda, Finlândia, França e Itália.
Entre os motivos apontados para a retirada das telas das salas de aula estão a queda de desempenho de leitura dos alunos; as críticas de órgãos de saúde ao uso excessivo de telas, pois prejudica as capacidades cognitivas; dificuldade maior de os pais ajudarem os filhos nas tarefas; falta de concentração dos jovens; e evidências científicas que mostram os benefícios dos livros físicos.
Influência na educação
Com mais de 25 anos de atuação na área da educação, o professor Juliano Silva Campana fez uma explanação sobre o tema. Ele esclareceu que toda tecnologia representa estímulos para os nossos sentidos e que o uso das telas envolve a liberação de dopamina, um neurotransmissor responsável por levar informações do cérebro para as várias partes do corpo.
“Quando você retira o celular acontece uma crise de abstinência, como de uma pessoa em uso de drogas. (…) O uso de telas de forma indiscriminada gera uma sensação exagerada dos sentidos. Não é só na sala de aula, é no ambiente familiar, no lazer e no social”, frisou.
Campana falou que a questão engloba três frentes: formação anatômica do cérebro, influenciando na capacidade cognitiva; deturpação da formação moral, prejudicando a capacidade de interpretar e questionar dos jovens; e a dimensão educacional. De acordo com o professor, não existe estudo científico hoje que comprove que um aluno aprende mais por causa do uso da tecnologia.
Também ressaltou que existem questões neurológicas verificadas cientificamente. “Muda a anatomia do cérebro das crianças, conforme um estudo com avaliação de imagem com 4.700 crianças. (…) O que não é utilizado, atrofia, como qualquer músculo”, salientou.
Citou, ainda, uma lista de 20 malefícios provocados pelo uso excessivo de telas, entre eles, impacto na qualidade do sono, queda no rendimento acadêmico, aumento do estresse, problemas de postura, prejuízos na comunicação face a face, desenvolvimento de dependência, redução de empatia, dificuldade de regulação emocional, perda de habilidades sociais e problemas de saúde mental, visão e de postura.
“Eu sou analista de sistemas, sou da área de tecnologia e sei do impacto que a tecnologia causa nas crianças”, afirmou. Ele informou que dirige uma escola com alunos de 2 anos até o Ensino Médio e que nessa escola os estudantes nunca puderam utilizar o celular. A escola foi fundada em 2017.
Por fim, o professor enfatizou os riscos do uso indiscriminado para os jovens e disse que as consequências são cientificamente comprovadas. Além disso, comentou que essa discussão está sendo feita em vários países. “Não se cria uma pessoa forte sem capacidade de esforço, capacidade de atenção, esforço físico”, concluiu.
Encaminhamentos
Ao final dos trabalhos, Mazinho fez os seguintes encaminhamentos: pediu para replicar a audiência pública em municípios do interior, começando por Barra de São Francisco; criação de um grupo de trabalho com a assessoria do deputado, integrantes da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), da Comissão de Educação da Ales e do professor Campanha para desenhar um projeto para alertar e até proibir o uso de telas nas escolas; agendamento de uma visita técnica da comissão à Prefeitura do Rio de Janeiro para entender a regulamentação deles; e a elaboração de um requerimento de informação ao governo do Estado perguntando se existe alguma política pública nesse sentido voltada para as escolas estaduais.
Além dos citados, também participaram da audiência pública os vereadores por Barra de São Francisco Emerson Lima (PSD) e Israelle Cândido (PSD).
Fonte: Assembleia Legislativa
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