A Agenda 2030 e a Questão Cultural

A Agenda 2030 e a Questão Cultural

Por Cesar Allbenes

No marco de ação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados pelas Nações Unidas em setembro de 2015, a agenda internacional de desenvolvimento se refere à cultura pela primeira vez. Tal fato foi elogiado pela UNESCO como um reconhecimento sem paralelo. A salvaguarda e a promoção da cultura são fins em si mesmas e, ao mesmo tempo, contribuem de forma direta para muitos dos ODS – promoção da igualdade de gênero (ODS 5), trabalho decente e crescimento econômico (ODS 8), redução das desigualdades (ODS 10), cidades seguras e sustentáveis (ODS 11), e sociedades pacíficas e inclusivas (ODS 16). Os benefícios indiretos da cultura resultam de implementações culturalmente conscientes e efetivas dos objetivos de desenvolvimento.

Os ODS consagram uma mudança conceitual no pensamento sobre o desenvolvimento além do crescimento econômico – vislumbrando um futuro desejável que seja equitativo, inclusivo, pacífico e ambientalmente sustentável. Essa visão corajosa requer abordagens criativas, além das típicas abordagens lineares e setoriais que a maioria dos países tem utilizado nas últimas décadas.

Se os ODS são agrupados em torno de objetivos econômicos, sociais e ambientais como os três pilares do desenvolvimento sustentável, então, a cultura e a criatividade contribuem transversalmente para cada um desses pilares. Por outro lado, as dimensões econômica, social e ambiental do desenvolvimento sustentável contribuem para a salvaguarda do patrimônio cultural e para o estímulo da criatividade.

O patrimônio cultural – tangível e intangível – e a criatividade são recursos que devem ser protegidos e gerenciados de forma cuidadosa. Ambos podem funcionar como condutores e facilitadores para a realização dos ODS, quando soluções que dão ênfase à cultura são capazes de assegurar o sucesso de intervenções para alcançar tais Objetivos.

A cultura tem um papel essencial a exercer no ODS11: “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”. A Meta 11.4 pede o fortalecimento dos esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural do mundo.  O trabalho da UNESCO abordou esse objetivo mesmo antes de sua introdução formal em 2015.  Na Declaração de Hangzhou no “Congresso Internacional sobre a Cultura: Chave para o Desenvolvimento Sustentável” aprovada em maio de 2013 – no congresso internacional organizado pela UNESCO na cidade chinesa de mesmo nome –cujos resultados foram aprovados em dezembro de 2015; a ênfase em cidades centradas nas pessoas permaneceu firme, e contribuiu para o desenvolvimento da Nova Agenda Urbana das Nações Unidas.

Essa Agenda, que fornece um roteiro com duração de 20 anos para orientar o desenvolvimento urbano sustentável e visa a transformar as cidades do mundo, foi aprovada oficialmente por todos os países no encontro Habitat III, que ocorreu em Quito, Equador, em outubro de 2016. A UNESCO também lançou seu relatório “Cultura e futuro urbano: Informe mundial sobre a cultura para o desenvolvimento urbano sustentável”. que apresenta uma visão global sobre a salvaguarda, a conservação e a gestão do patrimônio urbano, assim como a promoção de indústrias culturais e criativas.

O turismo também é um setor econômico em rápido crescimento, dentro de um país ou região e ao redor do mundo. O turismo cultural responde por 40% das receitas mundiais do turismo. Isso tem um impacto direto e positivo em relação a todos os ODS, em especial o ODS 8: “promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos”. Assim, o patrimônio cultural quando é administrado de forma cuidadosa, atrai investimentos no turismo de uma forma sustentável, envolvendo as comunidades locais sem causar danos às áreas do patrimônio.