A Luta política e a gestão pública

A Luta política e a gestão pública

Por Luiz Paulo Vellozo Lucas

Fiquei quase 20 anos fora do Espirito Santo estudando e trabalhando. Voltei em 1992 a convite do governador Albuíno Azeredo para assumir a Secretaria de Planejamento e Ações Estratégicas, a SEPLAE. Fizemos um seminário de planejamento estratégico com toda equipe de governo em Pedra Azul depois de uma pesquisa aprofundada de avaliação do governo.

Projetos prioritários e gerentes por projeto eram uma grande novidade e foram pactuados no seminário.

Saí do governo no inicio de 1994 por divergências em relação a gestão fiscal do estado e também pelo entusiasmo com o Plano Real liderado pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso.

Me filiei ao PSDB para disputar minha primeira eleição para deputado federal. Queria ir para o Congresso Nacional lutar pela a implantação das reformas do estado brasileiro e pela estratégia de estabilização macroeconômica do Plano Real.

Nestes 33 anos participei intensamente da vida pública do Espirito Santo e do Brasil, ocupando cargos e disputando eleições.

O slogan da minha primeira campanha eleitoral em 1994 foi: “É tempo de Qualidade na Política”. Parece ainda muito atual. Na Prefeitura de Vitória por dois mandatos pude implantar muitas das minhas ideias sobre gestão, planejamento estratégico, qualidade total e desenvolvimento das cidades.

A estratégia principal sempre foi associar qualidade técnica e qualidade politica para fazer uma gestão transformadora.

Em 2002 a eleição presidencial levou Lula e o PT para o poder. A nova equipe econômica deu continuidade a gestão tucana com Henrique Meireles no Banco Central e Marcos Lisboa na Secretaria de Politica Econômica.

No entanto o discurso do governo petista propagava que eles combatiam a “herança maldita de FHC”.

O escândalo mensalão revelou a estratégia de cooptação politica do atraso fisiológico afim de comprar governabilidade congressual sem precisar de fato ampliar alianças.

Como se viu depois no escândalo do Petrolão e nas gestões desastrosas de Dilma Rousseff, o PT mostrou- e até reconheceu- ser capaz de fazer o diabo para ganhar eleições e permanecer no poder.

O julgamento de Jair Messias Bolsonaro e dos generais que tentaram ficar no poder na marra pela ameaça de intervenção das forcas armadas mostra, por sua vez, que a democracia brasileira precisa, além de erradicar a corrupção que envenena e frauda a luta politica, exorcizar o fantasma de golpe militar ressuscitado 40 anos depois pelo capitão e seus aloprados. Bolsonaro não enganou ninguém.

Pregou a ditadura abertamente, atacou e agrediu as instituições da democracia, trouxe as forças armadas para o governo, entregou o Congresso Nacional para o fisiologismo explicito, insuflou violência e a desordem para ter desculpa para uma intervenção militar. Vai pagar caro na Justiça por isso.

Depois da condenação, que parece liquida e certa, o Congresso Nacional e as forças politicas vão se debruçar sobre o resultado do julgamento e as alianças para as eleições de 2026. Ainda que as penas sejam atenuadas, Bolsonaro seguirá sendo inelegível e o Brasil tem a chance de aposentar a escolha entre Lula 4 e o capitão.

No nível estadual, o exemplo capixaba revela uma experiencia radicalmente diferente. O ciclo politico iniciado em 2002 sob a liderança de Paulo Hartung a se encerrar em 2026 com o fim do governo Renato Casagrande, soube premiar eleitoralmente entregas e resultados de gestão eficiente e transformadora.

Uma frente politica ampla e democrática governou o estado sem descontinuidade e, em pouco mais de duas décadas, resgatou a confiança nas instituições públicas, o respeito e a participação das lideranças da sociedade.

Assim, com o interesse público e a luta politica sendo conduzidos de maneira civilizada e cooperativa, o Espirito Santo avançou e seu exemplo é digno de orgulho e evidência cabal de sucesso.

Não tenho duvida que os capixabas vão querer que se inicie em 2026 um novo ciclo de gestão e desenvolvimento tão virtuoso quanto o que se encerra. O Espirito Santo é o Brasil que dá certo.

No Brasil ainda precisamos fazer com que todos compreendam e aceitem que a força do argumento deve sempre ser mais forte que o argumento da força.

Na democracia é assim.