Bolsonaristas desmontam acampamento na Prainha durante posse de Lula

Bolsonaristas desmontam acampamento na Prainha durante posse de Lula

O acampamento bolsonarista instalado há mais de dois meses no Parque da Prainha, em frente ao 38º Batalhão de Infantaria do Exército, em Vila Velha, começou a ser desmontado na tarde deste domingo (01) ao mesmo tempo em que ocorria a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que acontece em Brasília.

Segundo moradores e comerciantes do local, a movimentação de desmonte começou a se intensificar a partir do pronunciamento do agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), numa live na última sexta-feira (30), em tom de despedida. O Folha Vitória havia estado no local quando se completou um mês de ocupação. A presença dos bolsonaristas não era aprovada pelos moradores.

Os integrantes postados na frente dos quartéis em todo o país estavam insatisfeitos com os resultados da eleição presidencial, em que Bolsonaro não foi reeleito. Por isso, faziam pedidos inconstitucionais, como intervenção militar e reversão do resultado das eleições.

Eles esperavam que o ex-presidente desse uma ordem para justificar uma revolta civil, com apoio das Forças Armadas. Tal ordem não veio. Além disso, ao citar esses movimentos, Bolsonaro afirmou que não teve participação deles em nenhum momento. A live foi feita antes do ex-mandatário embarcar para os Estados Unidos.

Foto: Reprodução

Em clima de silêncio e frustração, na tarde deste domingo, lonas e barracas eram desmontadas e dobradas. Tudo era colocado num caminhão.

O subsecretário municipal de Cultura de Vila Velha, Manoel Goes Neto, é morador da Prainha e vê o encerramento da manifestação como um grande alívio para os projetos culturais da prefeitura, que foram suspensos no local por causa do acampamento.

“Poderemos finalmente voltar com o projeto ‘Arte no Parque’, que sempre levava atrações culturais para as famílias com artistas locais, sempre aos domingos, das 10h às 13h. A programação ficou impedida de ser realizada desde novembro, com essas barracas e tendas ocupando espaço e prejudicando a mobilidade. Muitas pessoas deixaram de vir aqui por causa desses movimentos”, observou.

Ele citou a reclamação de comerciantes que viram a frequência de clientes decaírem. Além de ser um polo turístico por ser berço da colonização do Espírito Santo, a Prainha também abriga um polo gastronômico, que foi prejudicado com a diminuição de circulação de pessoas aos finais de semana.

Foto: Reprodução

“A Vila Natalina, montada pela Prefeitura de Vila Velha, teve uma frequência muito boa mas poderia ser melhor se estivesse ocupando toda a Prainha. Ali onde estava o acampamento dos bolsonaristas seria instalada uma praça de alimentação, dando mais opção de conveniência para os visitantes”, explicou.

Neto diz que o trabalho da prefeitura agora será de reconstrução. Ele citou que o gramado foi prejudicado, além da quantidade de lixo e resíduos deixados pelos bolsonaristas.

“Quando tudo for desmontado, iremos fazer um trabalho de recuperação. Graças a habilidade do prefeito Arnaldinho Borgo e da prefeitura, o processo foi conduzido com muita inteligência, sem nenhum tipo de confronto. Eles tiveram o direito deles de protestar garantido. Mas a Prainha saiu prejudicada”, aponta.

Alguns integrantes sairão nesta segunda-feira (02), afirmou manifestante

A reportagem conversou com duas integrantes das manifestação. Elas optaram pelo anonimato e confirmaram sobre o desmonte do acampamento.

A primeira disse que, embora em menor quantidade, alguns manifestantes seguem acampados. Ainda segundo a integrante, na manhã deste domingo (01), parte dos manifestantes já estavam desmontando as estruturas do local. Acrescentou que até segunda-feira, mais manifestantes iriam embora.

Já outra integrante confirmou que, por definição do próprio grupo, o desmonte começou nesta manhã. Um caminhão apareceu para carregar o material. Ela não soube precisar o número de pessoas que continuavam por lá.

Acampamento testemunhou prisão de pastor bolsonarista 

Além de cotidiano marcado por protestos e muito barulho contra o resultado das eleições e clamor para que as Forças Armadas participassem de um golpe, o acampamento testemunhou a prisão de um religioso.

O pastor bolsonarista Fabiano Oliveira foi preso em 19 de dezembro no acampamento da Prainha pela Polícia Federal, em Vila Velha, segunda-feira (19) por atos antidemocráticos. O pastor estava foragido desde 15 de dezembro, quando a prisão foi solicitada pelo ministro Alexandre de Moraes, sendo um dos alvos da operação da PF contra suspeitos de organização e participação em atos antidemocráticos.

Foto: Reprodução/ WhatsApp
Pastor Fabiano Oliveira foi preso no acampamento instalado na Prainha, em Vila Velha, no dia 19 de dezembro

Na época, de acordo com o superintendente da PF, Eugênio Ricas, Oliveira estava no acampamento e não reagiu à prisão. Ainda segundo Ricas, ele foi encaminhado para exames no Departamento Médico Legal e entregue ao sistema prisional.

Quando ainda estava foragido, o pastor participou de uma live com bolsonaristas, aparecendo em frente ao Batalhão. Segundo a polícia, o pastor não foi preso na ocasião pois um grupo de pessoas se aglomerou na frente do local, colocando em risco a integridade das pessoas presentes, em caso de ação da PF.

Ele era um dos quatro alvos do mandado de prisão expedido no âmbito da operação, que contou com outros 23 mandados de busca e apreensão e mirou 12 alvos acusados de participar e organizar atos antidemocráticos.

 

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