Coronel Ramalho sobre candidatura: “posso ser candidato a deputado federal, a estadual ou a nada”

Coronel Ramalho sobre candidatura: “posso ser candidato a deputado federal, a estadual ou a nada”

Dizendo que levou uma “porrada” e que está como um lutador de boxe, meio tonto no ringue, o coronel Alexandre Ramalho admite que foi “muito leigo” em relação ao “jogo político”, mas não tem tempo a perder. Após ter tido sua candidatura a senador barrada pela direção estadual do próprio partido (Podemos), o ex-secretário estadual de Segurança Pública afirma que tem três opções pela frente: não ser candidato a nada, concorrer a deputado federal ou até disputar uma vaga na Assembleia Legislativa.

Na primeira parte de sua entrevista à coluna, que você confere abaixo, Ramalho demonstra nítida inclinação para continuar no jogo eleitoral, sendo candidato a deputado federal ou até a estadual – algo que ele dizia que não toparia, até ver implodir, nesta quarta-feira (3), sua candidatura ao Senado.

“A rua está pedindo para eu continuar […] O meu sentimento interno é de continuar contribuindo. Tenho muito a contribuir. Seria muito injusto eu pegar agora a minha mochilinha de 33 anos de experiência na segurança pública, guardar lá no guarda-roupa e guardar o quepe e acabou”, justifica.

Ramalho precisa se decidir até o próximo dia 15, último dia do prazo para registro de candidaturas na Justiça Eleitoral.

Como o senhor recebe a decisão do partido de não lhe dar legenda para concorrer ao Senado?

Com muita consternação e muita decepção. Era um projeto, no meu entendimento, pelo que eu sentia nas ruas, extremamente viável, calçado no que a gente trabalhou pelo Espírito Santo em 33 anos militando na segurança pública e na angústia pelo que eu sentia nas comunidades. Chega um ponto em que você não tem mais o que oferecer e o que responder à população. É preciso ser mais enfático quanto aos prejuízos que uma legislação permissiva está trazendo ao Brasil. Antes do dia 2 de abril, recebi do Podemos o convite e me filiei dizendo ao Gilson Daniel [presidente estadual do partido]: “Estou vindo ao partido na condição de ser candidato ao Senado, tá ok?”. Ele disse “tá ok”. No dia 2 de abril, a chapa de candidatos a deputado federal do Podemos perdeu o [médico] Gustavo Peixoto [para o União Brasil]. Nesse dia, o Gilson Daniel e o governador me ligaram, me perguntaram se eu aceitava me tornar candidato a deputado federal. Eu disse que não, que meu projeto não era esse. Horas depois, o governador me ligou dizendo o Gilson Daniel estava mantendo minha candidatura ao Senado. Ele disse: “A eleição majoritária eu vou discutir depois. Trabalhe para se viabilizar”. E, desde então, caí no campo, visitando municípios, comunidades, levando nossas propostas, sempre muito bem acolhido, e aqui vai meu agradecimento a todos. Mesmo sem enxada, eu fui capinar. Nesse período todo, não teve nenhum fato que desabonasse a nossa candidatura. No meu caso, fica esse sentimento de decepção, até mesmo um sentimento de injustiça, porque não houve nenhum fato concreto que justificasse a retirada da minha candidatura ao Senado. Algumas pessoas me dizem: “A política é assim. Você precisa compreender a política”. Eu compreendo, mas não sou obrigado a concordar. É um direito meu de ter também um sentimento de frustração, decepção e tristeza. Mas vamos respeitar a decisão da Executiva Estadual e do presidente estadual do partido. Não fica nenhum sentimento de revanche, de que fui atropelado, de que vou fazer alguma coisa contra fulano e sicrano ou me tornar inimigo de alguém. Tenho que encarar com maturidade, mas é claro que fica a decepção.

Fica o sentimento de decepção, de injustiça… e também o de traição? O senhor sente que foi traído, ou enganado por alguém, ao longo dessa trajetória como pré-candidato ao Senado?

O que posso te dizer é que fui muito leigo nesse processo. O jogo político a gente não conhece plenamente. E me surpreendi realmente com a condução. Posso dizer que esperava mais. Esperava que o partido de fato me abraçasse. Se o partido realmente tivesse abraçado esse projeto desde o início, a gente estaria muito mais fortalecido. Mas isso em nenhum momento aconteceu. Fiquei sozinho. Não fica um sentimento de traição. Fica um sentimento de que o processo poderia ter sido bem conduzido.

O senhor, então, não se sente traído?

Não, traído não. Eu me sinto frustrado. Não vejo um ato de traição. Me largaram sozinho neste processo. Não posso nem dizer que fui traído, porque ninguém caminhou comigo. Fiquei caminhando sozinho. Muitos falaram isso, que lá na frente não me dariam legenda, que o jogo político é assim… e eu não acreditava. Acreditava verdadeiramente que minha candidatura ao Senado seria homologada.

O senhor agora será ou não será candidato a deputado federal?

A rua está pedindo para eu continuar. Isso é importante para mim neste momento. Isso é um reconhecimento ao nosso trabalho e ao nosso projeto. Mas, sinceramente, a porrada foi tão grande que não sei o rumo que vou tomar agora. Ainda estou como aquele lutador de boxe, meio tonto ali no ringue, para buscar o direcionamento. Agora é dialogar com meus amigos, com a minha família. E ver se realmente tenho espaço para continuar nesse projeto. Se valeria a pena buscar a Câmara Federal, para continuar discutindo a segurança pública. Estou avaliando até mesmo se é o caso de ser candidato a deputado estadual ou se é o caso de não ser nada, como você disse num artigo: pegar o quepe, botar debaixo do braço e ir embora.

Espere: o senhor pode ser candidato a deputado estadual?

Sim. Estou pensando se é o caso de ser candidato a estadual, pensando nas nossas polícias, nos Bombeiros, nas nossas guardas municipais. Mas ainda estou pensando no primeiro passo. Ainda não tenho essa decisão.

Então, no momento, o senhor considera ser candidato a deputado federal, ser candidato até a deputado estadual ou não ser candidato a nada? O senhor está avaliando essas três opções?

Exatamente. Essas três opções. Mas preciso conversar com minha família, com os amigos que estão comigo. Preciso fazer uma leitura política.

As três alternativas estão agora na sua mesa e o senhor vai optar por uma delas? É isso?

Exatamente. Posso ser candidato a federal? Posso. Posso ser a estadual? Posso. Posso ir para casa, levar o quepe? Posso. Vai buscar o mundo privado, empresa de consultoria, vai dar palestra? Também posso. Ainda estou pensando.

O senhor está mais inclinado hoje para alguma delas? O seu sentimento diz o quê?

Rapaz, meu sentimento hoje é de ouvir a rua e de continuar dialogando. As mensagens que tenho recebido têm me ajudado muito a me reerguer. E avaliar. Ouvir muito a rua.

E o senhor tem vontade de permanecer no processo eleitoral, disputando algum outro cargo eletivo (deputado federal ou estadual)? É esse o sentimento da rua, medido pelo seu termômetro?

O meu sentimento interno é de continuar contribuindo. Tenho muito a contribuir. Seria muito injusto eu pegar agora a minha mochilinha de 33 anos de experiência na segurança pública, guardar lá no guarda-roupa, guardar o quepe e acabou. O meu sentimento é de contribuir, mas tenho que avaliar até que ponto posso entrar nesse projeto, com quais meios vou entrar, como vai ser esse processo, como é que o partido vai me acolher. Tenho que avaliar isso tudo para ver se vale mesmo a pena eu entrar nisso. Eu ouço muito assim: “Você vai ser escada. Você vai entrar nesse novo projeto para ser escada para outro”. Não é isso que eu desejo. Se eu entrar num projeto, aguerrido como eu sou, é para ser vencedor. É para entrar para realmente disputar. Então como serão as ferramentas para eu disputar isso? Tudo isso tem que ser colocado na mesa agora.

O senhor, em tese, pode ter mais votos que o próprio Gilson Daniel para deputado federal…

Se eu entrar nesse projeto, é claro que vou querer que isso aconteça.

E candidatura a deputado federal o partido garante ao senhor? Nesse caso não haveria problema?

Ele [Gilson Daniel] me garantiu na data de ontem que sim, que haveria uma vaga em aberto e para a gente voltar a conversar num futuro próximo.

É o que está indicando o sentimento captado pelo senhor nas ruas e nas redes sociais? Que o senhor não deve ficar de fora do processo eleitoral, mesmo que isso signifique concorrer a outro cargo que não o de senador?

Nas ruas e nas redes sociais. O sentimento das ruas é para que eu continue lutando.

 

Fonte: ES360