Debate em Cachoeiro aborda questões de resgate de animais e zoonoses
Colegiado de Bem-Estar dos Animais discutiu como a prefeitura deve lidar com animais abandonados e doentes
A abordagem médica veterinária para animais resgatados e a disseminação da esporotricose, doença que acomete gatos e pode passar para humanos, foi tema de audiência pública da Comissão de Proteção e Bem-Estar dos Animais da Assembleia Legislativa (Ales). O encontro aconteceu na Câmara de Vereadores de Cachoeiro de Itapemirim nesta quinta-feira (23).
Presidente do colegiado, a deputada Janete de Sá (PSB) falou que a esporotricose está sem controle no Espírito Santo e que ela estava trabalhando para amenizar o problema. “Está tendo um surto no Estado todo e, aqui em Cachoeiro, temos casos notificados. Estamos fazendo uma cruzada junto à Secretaria de Estado de Saúde para combatermos a esporotricose. É uma doença que contamina a espécie humana”, alertou.
Quem também participou do encontro foi o deputado estadual Allan Ferreira (Podemos), que tem base política em Cachoeiro. O parlamentar reforçou seu compromisso com a causa animal e se disponibilizou para ajudar no que for necessário para sanar os problemas existentes na cidade.
O veterinário e proprietário do Hospital Veterinário Rancho Bela Vista, Antônio Marcos Ginelli, ministrou uma palestra sobre a abordagem médico-veterinária para animais resgatados. Ele disse que o hospital, localizado em Serra, foi fundado em 2010 e que atualmente possui 18 contratos com a administração pública para resgatar, castrar e cuidar de animais de qualquer porte.
De acordo com Ginelli, a equipe do hospital conta com 130 colaboradores diretos, entre veterinários, técnicos, auxiliares e motoristas. “Procuramos resgatar os animais com segurança. Tentamos remover os animais sem meios agressivos, mas às vezes temos de usar métodos de contenção. Nosso trabalho hoje tem uma visibilidade muito grande”, afirmou.
O veterinário ainda ponderou que, para ter sucesso, qualquer projeto ligado à causa animal precisa trabalhar a reintrodução dos animais na sociedade após o tratamento necessário. “Precisamos fortalecer esse apadrinhamento”, ressaltou. No momento, o rancho está abrigando 873 cachorros e 185 gatos.
Uma das protetoras independentes presentes ao encontro, Eliane Parajara pontuou que a maior parte dos protetores está com seus respectivos espaços cheios. Segundo ela, vários estão no limite financeiro para manter os animais. “Estamos superlotados e muitas vezes sem ajuda do poder público”, frisou.
Para Janete, é fundamental a reintrodução dos animais ao ambiente, mas essa devolução não pode ocorrer a qualquer custo. “Não pode ir de forma atabalhoada para as mãos de um tutor irresponsável. É uma situação complicada, a gente não consegue tutores com tanta facilidade. (…) Às vezes o animal também não se adéqua à realidade de uma família”, salientou Janete.
Outro tema abordado pelo proprietário do Rancho Bela Vista foi a esporotricose. “É um problema que sempre existiu, mas hoje está com uma visibilidade maior. Temos alguns contratos vinculados diretamente à esporotricose. Não dura menos que quatro meses o tratamento. A gente não fica segurando o animal para segurar a diária. É de quatro a seis meses em média e alguns ficam até um ano”, explicou.
Questionamentos à prefeitura
Indagado por protetores de animais acerca do funcionamento do serviço Castramóvel, o secretário municipal de Urbanismo, Desenvolvimento e Meio Ambiente Antônio Carlos Valente, informou que, quando assumiu a pasta, o veículo estava com problemas e foi consertado, mas, conforme o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV), para colocá-lo de volta às ruas é preciso fazer algumas regularizações.
Conforme Valente, tanto a prefeitura quanto o governo do Estado estão disponibilizando recursos para a causa animal e, em breve, o veículo estará nas ruas fazendo os atendimentos. “Até a segunda quinzena de dezembro teremos alguns processos conclusos. Além do Castramóvel, vamos ter um novo espaço para a Gerência de Bem-Estar Animal. Isso revela nosso cuidado e atenção junto ao bem-estar animal”, salientou.
Já o secretário municipal de Saúde, Alex Wingler, explanou que está sendo feito um censo para descobrir a quantidade de animais existentes no município. Ele mostrou preocupação com a questão da esporotricose e citou que ocorreram melhorias no Centro de Zoonoses de Cachoeiro. “Precisamos evoluir mais ainda. No futuro vamos precisar de um ministro da causa animal para fazer chegar os recursos”, destacou.
Em relação aos recursos públicos, Janete recordou que a causa animal não pode receber recursos públicos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS), e que na área de meio ambiente faltam recursos para dividir com a causa animal. A parlamentar apontou a necessidade de medidas para o bem-estar dos animais e dos humanos. “Temos mais de 6,5 mil casos de esporotricoses notificados. O animal vai sendo comido e morre de dor. É algo desumano”, lamentou.
Ela também reforçou que é imperativo aumentar os programas de castração nos municípios e de educar a população em relação aos cuidados. “Criamos um programa estadual para injetar recursos nos municípios para castrar animais e para o bem-estar animal. O Pet Vida é pouco, mas é um início”, afirmou.
Diante dos fatos relatados, o presidente da Câmara de Vereadores de Cachoeiro, Brás Zagotto (Podemos), prometeu que os parlamentares iriam em conjunto destinar mais R$ 300 mil em recursos do Orçamento municipal para as ações da causa animal.
Ao final do encontro, Janete pediu aos secretários de Cachoeiro que agilizassem as medidas prometidas. Também sugeriu que, enquanto o Castramóvel não estiver disponível, deveriam ser feitas parcerias para a castração dos animais.
“Dados apontam para até 55 mil infectados no Espírito Santo. São poucos os municípios que não têm casos. Há uma subnotificação muito grande”, concluiu. Allan completou dizendo que havia ficado feliz com as explicações dos secretários e que espera que, para o ano que vem, os serviços de recolhimento e castração dos animais no município sejam melhorados.
O evento contou com a presença dos vereadores de Cachoeiro de Itapemirim Marcelinho Fávero (PL), Pastor Delandi (Podemos), Vandinho da Padaria (PSDB), Osmar Chupeta (Republicanos), Paulo Grola e Paulinho Careca (ambos do PSB). Também participaram outras autoridades, protetores dos animais e a população em geral.
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