Durante sabatina candidatos ao governo do ES trocam acusações e citam crime organizado
O encontro dos candidatos ao governo do Espírito Santo no segundo turno das eleições deste ano com representantes do setor produtivo, realizado nesta segunda-feira (17), em um hotel de Vitória, teve o crime organizado como um dos destaques, tanto no campo das propostas quanto no ataque direto entre os dois postulantes ao cargo de chefe do Executivo estadual.
Renato Casagrande (PSB), atual governador e candidato à reeleição, e o ex-deputado Carlos Manato (PL), que disputa o governo pela segunda vez, apresentaram, a uma plateia formada, em sua maioria, por empresários capixabas, as soluções que pretendem implantar para reduzir a criminalidade e inibir a atuação de organizações criminosas no Estado.
Manato, por exemplo, disse que investirá, caso eleito, na valorização das polícias, dando todo o suporte necessário para o exercício da profissão de maneira segura, contando com o apoio e o diálogo direto com governo.
No entanto, antes de detalhar que medidas práticas objetiva aplicar para melhorar a segurança no Espírito Santo, o candidato do PL direcionou críticas à gestão de Casagrande nessa área.
“Tudo que está aí, esquece. Não pode, policial morrendo, não tem concurso, não investe na capacitação, na inteligência da polícia, da Polícia Civil. Nós vamos mudar isso, vamos colocar polícia nas divisas, colocar mais blitze. Vamos colocar polícia, com delegacias específicas rurais. Precisamos ter gestão”, disse Manato.
Ainda durante sua fala sobre segurança pública, o candidato citou as tentativas da campanha de Casagrande, segundo ele, de ligar sua imagem ao crime organizado no Estado, especialmente no que se refere à sua suposta ligação com a Scudurie Le Cocq, um dos principais grupos de extermínio a agir no cenário capixaba.
“Já estão falando que ‘Manato’ é do crime organizado. Agora, eu pergunto, quem é do crime organizado? Quem trouxe um diretor presidente de banco que estava sendo investigado por R$ 17 milhões em desvios, e que o governador, que era membro do conselho, botou aqui em um dia, e ele foi preso no outro. Quem é do crime organizado, eu ou ele (Casagrande)?”, questionou Manato durante os ataques direcionados ao socialista.
Já Casagrande, na hora de apresentar suas propostas para área da Segurança Pública, disse que a escalada da violência e da criminalidade é, atualmente, um desafio para governantes de todo o Brasil. Ele ainda pontuou o que chamou de perda de valores de família e religiosos.
“Segurança pública é um desafio que a sociedade brasileira tem. Perdemos valores de família, perdemos valores religiosos; temos a epidemia de drogas, forte na nossa sociedade. Segurança pública exige continuidade de políticas públicas. Nós temos o Espírito Santo, o estado que já foi o mais violento desse país, com a Scudurie Le Cocq, que retirava a vida de muita gente, no Estado”, contextualizou Casagrande.
Na sequência, o atual governador apresentou números alcançados no combate à violência e `à criminalidade durante a sua gestão, além de pontuar que ações irá implantar em um possível segundo mandato consecutivo à frente do Palácio Anchieta.
“Nós saímos segunda posição como o estado mais violento, para a décima terceira. Se a gente continuar com os investimentos que estamos fazendo em segurança pública, vamos poder chegar entre os cinco estados menos violentos desse país. Estamos migrando a segurança pública do ambiente analógico para o digital, para a gente apertar os grupos criminosos no Espírito Santo. Segurança pública não se analisa a partir de um fato, mas dentro de um período”, afirmou o socialista, que ainda admitiu que a população, hoje, vive uma “sensação de insegurança muito maior” devido aos últimos acontecimentos violentos registrados no Estado, entre eles a queima de coletivos de transporte de passageiros por parte de criminosos na última semana.
Falando especificamente sobre o crime organizado no Estado, Casagrande ressaltou: “Hoje nós temos crime organizado no Espírito Santo, mas não temos o crime organizado metido nas instituições. Acontece uma queima de ônibus, as forças de segurança têm capacidade de reagir e prender os causadores e autores desses crimes”.
Contra-ataque
Assim como Manato, Casagrande também usou o momento em que falava sobre o crime organizado no Estado para direcionar duras críticas ao seu oponente.
“Um debate político superficial, em que há um candidato que se esconde atrás do presidente Jair Bolsonaro (PL), para poder tentar chegar ao governo sem se apresentar de forma objetiva e clara para a sociedade capixaba, está escondido na moita. A gente tem que tirar ele (Manato) da moita, para ele se apresentar de forma objetiva, com suas propostas, com sua história”, frisou.
Ex-candidatos ao governo
Manato foi o primeiro entrevistado da sabatina com o setor produtivo. Ele chegou ao evento acompanhado por três ex-candidatos ao governo do Estado no primeiro turno das eleições, sendo eles Aridelmo Teixeira (Novo), Guerino Zanon (PSD) e Audifax Barcelos (Rede).
Segundo o ex-deputado, os três políticos farão parte de sua equipe de transição de governo, em caso de uma hipotética vitória no pleito de 30 de outubro. Aridelmo, inclusive, é cotado para ser o secretário de Estado da Fazenda em um possível governo sob o comando de Manato.
Os demais ex-candidatos dizem não haver acerto para assumir secretariados na administração do candidato do PL.
“Manato paz amor”
Durante toda a sua participação na sabatina desta segunda-feira, Manato fez questão de enfatizar que passou a adotar uma postura mais amena a partir do segundo turno das eleições, evitando o viés explosivo que, segundo ele, sempre foi uma de suas principais características.
“Aquele Manato explosivo morreu lá no primeiro turno. Estou mais humanizado”, disse o ex-deputado, reiteradas vezes.
Casagrande, o céu e o inferno
Antes de começar a responder aos questionamentos do setor produtivo, Casagrande abriu sua participação na sabatina fazendo uma “piada” que soou como uma ironia à nova postura de Manato, mostrando que a equipe de campanha do atual governador estava atenta à fala do ex-deputado no evento.
Tão logo Manato saiu, Casagrande subiu ao palco e contou a anedota de alguém que estava no céu, mas que teria pedido a São ´Pedro licença para ir visitar o inferno. Chegando lá, o personagem da estória contada por Casagrande teria se encantado com o clima amistoso, calmo, tranquilo e harmônico encontrado no inferno, em sua primeira visita.
No entanto, quando volta ao local, o personagem encontra um cenário de dor e sofrimento e, ao perguntar sobre a mudança repentina de atmosfera, o visitante teria sido informado que, quando se deu sua primeira visita ao inferno, o lugar estava vivendo um período de campanha.
Com a fala, o vice
Cada candidato teve direto a quinze minutos de fala livre, tempo que poderia ser utilizado para apresentação de propostas, considerações finais ou, também, para que os candidatos dessem oportunidade aos seus vices em suas respectivas chapas, de pontuar sobre as propostas de governo para o capixaba.
Manato não convidou o seu vice para falar aos representantes do setor produtivo presentes no evento. Ele usou todo o tempo de que dispunha para apresentar suas propostas, se defender de ataques adversários e para pedir votos.
Já Casagrande cedeu parte do seu tempo para que o ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB), vice em sua chapa para o governo do Estado, falasse ao empresariado.
O evento
Segundo a organização da sabatina, cerca de 200 convidados do Fórum de Entidades e Federações (FEF) compareceram ao Diálogo com o Setor Produtivo – Encontro com os candidatos ao governo do Estado, que estão disputando o segundo turno.
O formato do evento e a ordem de participação foram definidos por meio de sorteio e acordados com as assessorias dos candidatos. Manato foi o primeiro a compartilhar suas ideias e planos, e na sequência, foi a vez de Casagrande.
Os candidatos tiveram 1h15 minutos para responder perguntas dos empresários e lideranças presentes, acerca dos temas: educação, ambiente de negócios, competitividade, infraestrutura, meio ambiente, gestão pública eficiente e segurança, entre outros. Ao final, também tiveram uma oportunidade de fala livre por 15 minutos com participação aberta também aos vices de cada um.
Antes de cada candidato apresentar suas propostas, o coordenador do FEF e diretor-presidente do ES em Ação, Nailson Dalla Bernadina, leu uma mensagem do Fórum destacando as expectativas do setor produtivo para a gestão do próximo governador.
“Nossos desafios são grandes, por isso, precisamos de uma gestão qualificada, com capacidade de articulação entre os Poderes, municípios, estados, União, além do setor privado. Uma gestão que esteja comprometida com uma agenda de desenvolvimento econômico e social equilibrada com a competitividade do setor produtivo do nosso Estado”, frisou.
Em agosto, o FEF ouviu as propostas dos candidatos ao Governo do Estado Audifax Barcelos (Rede), Carlos Manato (PL), Guerino Zanon (PSD) e Renato Casagrande (PSB). E, em setembro, foi a vez de conhecer os planos dos candidatos ao Senado Magno Malta (PL), Erick Musso (Republicanos) e Rose de Freitas (MDB).
O FEF é formado pelo ES em Ação, Federação da Agricultura e Pecuária (Faes), Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), Federação das Indústrias (Findes) e Federação dos Transportes (Fetransportes).
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