O martelo dos tribunais – Grande Legislador – São Bento de Núrcia

O martelo dos tribunais – Grande Legislador – São Bento de Núrcia

Por João Dallapiccola

São Bento de Núrcia, nascido por volta do ano 480 d.c. na cidade de Núrsia (Norcia), na região da Úmbria, Itália, é uma das figuras mais influentes da história do cristianismo ocidental.

Ficou conhecido como o “Pai do Monasticismo do Ocidente”. Foi o fundador da Ordem dos Beneditinos e autor da Regra de São Bento, um conjunto de normas que orientava a vida monástica com equilíbrio, oração, trabalho e obediência.

Sua obra tornou-se uma constituição espiritual e organizacional para os mosteiros cristãos ao longo dos séculos, razão pela qual foi apelidado de “Grande Legislador”.

O título “Martelo dos Tribunais” é uma alusão simbólica ao poder de sua regra sobre a desordem e à sua capacidade de instituir uma disciplina que, embora espiritual, influenciava e influencia profundamente o comportamento humano.

A Regra de São Bento era mais do que um código religioso, pois trata-se de um verdadeiro tratado de organização comunitária, que estabelecia horários, responsabilidades, modos de convivência e formas de liderança espiritual e administrativa.

Essa norma influenciou não apenas os mosteiros cristãos, mas também a construção de instituições sociais e jurídicas em toda a Europa. Seu conteúdo, estruturado com sabedoria, evitava excessos e buscava a medida certa entre o rigor e a misericórdia, entre o silêncio e a palavra, entre a contemplação e a ação.

Por esse motivo, São Bento passou a ser estudado por juristas e teólogos como um modelo de legislador, ou seja, alguém que, com clareza e discernimento, soube regulamentar uma sociedade interna com impacto externo.

Na Itália, existem vários mosteiros beneditinos notáveis, sendo o mais famoso deles a Abadia de Monte Cassino. Outros mosteiros importantes incluem o Mosteiro de Subiaco, que compreende o Santuário do Sacro Speco e o Mosteiro de Santa Escolástica. Além disso, o Mosteiro de San Nicolò l’Arena em Catânia também se destaca como um dos maiores da Europa.

A Abadia de Montecassino Fundada por São Bento em 529, é considerada um dos bastiões da Ordem Beneditina e um centro importante da cultura medieval.

Inclusive em visita à Itália, tive a oportunidade de visitá-lo, uns cento e trinta quilômetros ao sul de Roma é considerado o berço do Beneditismo, e posso afirmar que o além de lindíssimo e harmônico, o ambiente é diferenciado com espiritualidade notável, pois é possível sentir a paz, leveza e uma presença incrível em o templo.

Já o Mosteiro de Subiaco (Santuário do Sacro Speco) construído sobre uma rocha, é conhecido por sua arquitetura única e pela ligação com a vida de São Bento.

Enquanto isso, o Mosteiro de Santa Escolástica (Subiaco), um dos 12 mosteiros fundados por São Bento, é considerado o mais antigo da Ordem Beneditina. Construída no século XIII sobre os restos da casa onde, segundo a tradição, São Bento e sua irmã gêmea Santa Escolástica nasceram, o templo é um local de intensa devoção e peregrinação.

Também merece destaque o Mosteiro de San Nicolò l’Arena (Catânia) localizado na Piazza Dante, que é um dos maiores mosteiros beneditinos da Europa e atualmente abriga o Departamento de Humanidades da Universidade de Catânia.

Não menos importante, o Sacra di San Michele, localizado em Piemonte, é um mosteiro histórico com uma arquitetura impressionante e vistas panorâmicas.

Como visto, o seu legado jurídico transcende os limites religiosos e ainda hoje é considerado uma das bases da cultura jurídica cristã ocidental.

Dessa forma, a cidade de Norcia, envolvida por muralhas medievais, respira espiritualidade e história. Os monges beneditinos que ali vivem ainda seguem a Regra de São Bento com fidelidade, mantendo viva a herança do legislador espiritual.

 Em alguns Templos, as missas são celebradas em latim, no rito tradicional, e o canto gregoriano ecoa entre as pedras centenárias, como uma memória viva da espiritualidade beneditina.

Norcia não é apenas um lugar geográfico, mas um centro simbólico de uma ordem que moldou grande parte da civilização europeia. Os visitantes que chegam à igreja são frequentemente impactados pelo sentimento de solenidade, silêncio e contemplação – valores caros à tradição beneditina.

Além de ser um templo de fé, os mosteiros de São Bento representam um ponto de conexão entre o passado e o presente. Sua destruição parcial no terremoto serviu como alerta para a importância da preservação do patrimônio cultural e religioso da humanidade.

A reconstrução da igreja tem sido acompanhada por diversas instituições internacionais, não apenas pelo valor artístico e arquitetônico do templo, mas pelo significado que ele carrega: o nascimento de um homem cuja vida e obra alteraram o curso da história cristã e europeia.

Assim como São Bento reconstruiu espiritualmente a Europa em tempos de decadência moral e social, a reconstrução de sua igreja é símbolo da capacidade humana de renascer da ruína com fé, trabalho e disciplina.

Ao longo dos séculos, São Bento continua sendo um guia para a organização da vida comunitária, tanto no âmbito religioso quanto no jurídico e social. Sua regra atravessou o tempo não como imposição autoritária, mas como um convite à ordem interior e à construção de uma vida equilibrada.

Seu impacto no Direito Canônico e até em estruturas administrativas seculares mostra que seu martelo não era o da condenação, mas o da edificação.

Escrito em conjunto pelos advogados João Batista Dallapiccola Sampaio OAB/ES 4.367, Marcelo Rosa Nogueira, OAB/ES 8.846, Alice Sampaio Pelissari Pavan, OAB/ES 16.969 .

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