Produtores de seringueiras pedem subsídio para automação da produção

Produtores de seringueiras pedem subsídio para automação da produção

Aquisição de tecnologia é necessária devido à escassa mão de obra e ao potencial crescimento da atividade, segundo cooperativas

Duas cooperativas que reúnem 80% da produção de borracha natural pediram apoio aos deputados para contornar a escassez de mão de obra especializada no segmento, que apresenta potencial para expansão. A saída proposta foi a criação de subsídio governamental para a aquisição de uma nova tecnologia que torna o processo de extração do látex mais eficiente. O problema esbarra no valor.

Fotos da reunião

O pleito foi apresentado em reunião conjunta promovida nesta terça-feira (11) pelas comissões de Agricultura e Cooperativismo com a presença dos respectivos presidentes, Lucas Scaramussa e Allan Ferreira (ambos do Podemos), além da deputada Janete de Sá (PSB).

Tradicionalmente a sangria da seringueira é feita com uma faca, manualmente, com incisões milimétricas na casca da árvore, explicou o assistente técnico da Heveacoop Rodrigo Maurício Passos. Além disso, a formação desse profissional chega a demorar até seis meses, já que a falta de perícia no trabalho pode acarretar perda de produtividade, diminuindo a vida útil da cultura de 50 para 10 anos, por exemplo.

Hoje países do sudeste asiático, região protagonista mundial no mercado de borracha, vêm adotando uma nova tecnologia para realizar essa sangria por meio de uma faca elétrica. Conforme detalhou Rodrigo, a novidade permite regular a profundidade da incisão na casca. “Isso independe da perícia do sangrador. Se nós preparamos ela para sangrar com 1 mm de profundidade, ela vai trabalhar com 1 mm de profundidade”, explicou.

Como vantagem, a automação aumenta a produtividade da cultura em 40% devido à padronização na sangria aliada às especificações da lâmina. “Isso permite uma sangria mais limpa, fazendo com que o fluxo do látex seja maior”, apontou Rodrigo. Segundo disse, a facilidade da tecnologia aliada ao menor esforço físico faz com que o seringueiro seja preparado em apenas dois dias e abre caminho para o ingresso de mulheres na atividade.

Da tribuna do Plenário Dirceu Cardoso, o convidado apresentou a diferença entre a faca manual e a elétrica, que funciona alimentada por uma bateria com seis horas de duração. O valor unitário de R$ 3,9 mil é um obstáculo para os seringalistas, pois o aparelho é utilizado por profissional e uma plantação de grande porte demanda número maior de seringueiros, multiplicando a quantia da compra.

“Hoje nós não temos condições de implementar essa nova tecnologia sozinhos. Estamos aqui hoje para tentar solucionar esse problema”, revelou o presidente da Coopebores, Jairo Cézar D’Oliveira Júnior. “Nosso principal foco hoje é trazer uma solução”, disse, referindo-se às dificuldades de formação de um seringueiro. “Não é qualquer pessoa que você vai pegar (…) e vai desempenhar esse papel como deve ser”.

O presidente alertou para o espaço de expansão do setor no estado. Segundo contou, atualmente existem 1.300 famílias no ramo, ou 7.800 empregos diretos. Entretanto, ressalvou, há potencial para 3.600 famílias trabalharem nas áreas hoje paradas por falta de mão de obra – 2 mil hectares. “Esse é o nosso grande gargalo na heveicultura hoje no Espírito Santo e Brasil. Falta de mão de obra”, declarou.

Importância da atividade

Conforme Jairo, o Brasil é responsável por 2% da produção mundial de borracha natural, mas consome 4%. A avaliação é que há possibilidade de que pelo menos a demanda interna seja suprida, ainda mais levando-se em consideração que a seringueira é natural da Floresta Amazônica. “Olha o tamanho da expansão, da oportunidade que nós temos dentro da heveicultura”, projetou.

Com clima favorável e livre de pragas que assolam outros estados, o Espírito Santo ocupa atualmente a 5ª colocação dentro dessa cultura, e tais características contribuem para que tenha mais peso no segmento. O presidente da Coopebores lembrou da existência de uma grande fábrica de pneus em Sooretama.

Além da indústria pneumática, a presidente da Heveacoop, Nádia Delamerlina, listou as demais áreas que utilizam o látex, como o agronegócio – sobretudo no maquinário agrícola e equipamentos de proteção como luvas e botas – e a importância para os automóveis. “O Brasil escoa suas riquezas sobre rodas. O modal rodoviário é responsável por 75% do transporte de tudo que se comercializa e tudo que é produzido no Brasil”.

“São mais de 40 mil itens produzidos com borracha natural e não existe um substituto perfeito”, argumentou. Países como Tailândia, Indonésia e Vietnã dominam o mercado mundial. De acordo com a convidada, em 2021 o Brasil contribuiu com 200 mil toneladas (1,5% do total mundial). Estados como São Paulo, Bahia e Mato Grosso são os de maior peso no cenário nacional.

Os participantes destacaram ainda os benefícios ambientais da árvore para o meio ambiente, como o sequestro do CO2 da atmosfera e a contribuição para a manutenção da cobertura vegetal, evitando a erosão do solo. Foi salientada a possibilidade de a seringueira ser cultivada em associação com outras plantações, como o cacau, por exemplo, em sistemas agroflorestais.

Representantes da OCB-ES se colocaram à disposição para ajudar no pleito, como o assessor de Relações Institucionais, Davi Ribeiro, e o analista de Desenvolvimento Cooperativista, Vinícius Schiavo. Produtor rural em Presidente Kennedy, Marcos Vivácqua reforçou o pedido junto ao Estado ao defender os impactos ambientais do setor. O gerente de Planejamento Rural da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), Guilhermo Recla, também participou.

Fonte: Assembleia Legislativa