Saúde debate políticas públicas para autistas
As dificuldades no atendimento às pessoas autistas, como a falta de especialistas e a demora na emissão do laudo médico, foram debatidas pela Comissão de Saúde nesta terça-feira (18). A reunião contou com a participação da presidente da Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo (Amaes), Pollyana Paraguassú, e dos deputados Dr. Bruno Resende (União), presidente do colegiado, Zé Preto (PL) e Pablo Muribeca (Patri).
A presidente da Amaes chamou a atenção para o aumento de registros de autismo no país: “O dado é de 23 de março de 2023. A cada 36 crianças, uma está dentro do transtorno do espectro autista. Calcula-se que, em menos de dez anos, a cada dois nascidos, um estará dentro do transtorno”, disse, citando levantamento dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention). “Nós, enquanto país, não temos nossos dados”, lamentou. Com base no estudo norte-americano, é feita uma projeção para o Brasil, explicou.
Segundo Pollyana, a Amaes atende diretamente mais de mil famílias e realiza mais de 8 mil atendimentos por mês. Nesses números não estão incluídas as famílias que são atendidas de forma indireta. Ela disse que a entidade está no limite de sua capacidade assistencial.
“Recebemos em nossa instituição, no mínimo, 5, 6, 7 laudos por semana. Não temos como fazer mais do que estamos fazendo hoje em razão da nossa estrutura física e dos nossos recursos. Temos apenas dois recursos continuados. Um pela educação, que é o contraturno, e um pela saúde, que é pelo município de Vitória, que atende até 11 anos e 11 meses. O autista não deixa de ser autista. Precisamos de investimento”, afirmou a convidada, para quem a questão envolve não só a saúde, mas também as áreas de educação, assistência e direitos humanos.
Intervenção precoce
A presidente da Amaes destacou ainda a importância da intervenção precoce não só para os autistas e suas famílias como também para a sociedade: “Depois nossos filhos são vistos como um fardo para a federação, estados e municípios. Mas, se nós tivermos intervenção precoce, podemos ter cidadãos contribuintes e que ajudem na economia do nosso país”, ponderou.
Falta de especialistas
A falta de profissionais especializados é um dos gargalos no atendimento. “A luta das mães por um laudo (médico) são anos na fila de espera. Quantos neuros e psiquiatras estão hoje atendendo? É inadmissível famílias ficarem 5, 3 anos esperando por um laudo que se tornou por prazo indeterminado, mas infelizmente muitos lugares ainda cobram laudos atualizados”, declarou Pollyana.
Lei 11.601/2022 – validade indeterminada para laudos e perícias médicas que atestam o Transtorno do Espectro Autista
O deputado Dr. Bruno Resende ressaltou que escassez de neurologistas e psiquiatras pediátricos é realidade não só no estado, como também no país. Segundo ele, a Comissão de Saúde está trabalhando para resolver o problema:
“Temos debatido isso de maneira incessante e já temos algumas propostas para que essa lacuna seja amenizada, tanto com a contratação de novos profissionais para os centros de especialidades quanto a implementação da telemedicina, que vai ampliar muito a rede de assistência”, disse o presidente do colegiado.
Já o deputado Zé Preto chamou a atenção para a falta de atendimento adequado em Guarapari. “Eu sei o transtorno que é levar uma criança autista dentro de um carro particular para Vitória para ser atendido. A mudança de local deixa ela muito alterada. Temos de unir convênios e casas que atendem autistas para levar tratamentos aos municípios”, defendeu.
Pablo Muribeca, por sua vez, falou sobre a necessidade de não só ter mais profissionais na saúde, mas também humanizar o atendimento. “Muitos pais, mães e adultos autistas – por falta de conhecimento de muitos profissionais – sofrem destratos. As pessoas chegam para ser atendidas e acabam sendo humilhadas. Já vivenciei isso várias vezes”, pontuou.
Suporte às mães
Pollyana destacou a necessidade de oferecer uma rede de proteção às mães de autistas. “Já tivemos casos na Amaes de autistas em crise e como 80% das mães são mães solo elas precisavam de ajuda porque os filhos estavam quebrando tudo dentro de casa e a mãe apanhando. Liga o Samu, Samu não pode. Só se a polícia for. Liga para a polícia, a polícia não pode. Quem ajuda essa mãe?”, questionou.
Fonte: Ales.
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