Um bonde para Vitória

Um bonde para Vitória

Por Luiz Paulo Vellozo Lucas

Uma fabrica de vagões ferroviários chinesa a CRRC Nanjing Puchen Co, vem produzindo desde 2018 um bonde que dispensa uso de trilhos e fiação elétrica. No Brasil ele está sendo implantado na Região Metropolitana de Curitiba e foi batizado como BUD (Bonde Urbano Digital). A capacidade de 300 passageiros em três carros na versão básica pode ser duplicada se a demanda for maior. O investimento neste novo modal é um terço de um VLT e até 10 vezes menor que o metrô. Vai circular sobre “trilhos digitais” por meio de sensores com comunicação terrestre e direção autônoma.

O governador do Paraná Ratinho Junior apresentou a novidade, junto com a Agência Metropolitana de Curitiba, para operar uma linha de dez quilômetros ligando Piraquara a São José dos Pinhais.

Seu pronunciamento, postado nas redes sociais na semana passada, relembra e exalta o pioneirismo da cidade de Curitiba em mobilidade e urbanismo desde os tempos de Jaime Lerner prefeito. Foi sem duvida um “timing” muito oportuno para quem almeja ocupar o lugar de Tarcísio de Freitas como candidato de oposição à presidência da Republica, já abençoado pelo estrategista maior do centrão Gilberto Kassab.

Acho que o BUD se encaixa como uma luva em Vitória. Deveríamos estudar a viabilidade de implantação de duas linhas no entorno da Ilha de Vitória. Uma pela orla da baia, circundando a ilha desde a Praça dos Namorados até o Mercado da Vila Rubim e outra linha continuando a circulação da Ilha pela costa oeste, da Rodoviária, passando por Santo Antônio e São Pedro, até o Canal de Camburi. A cidade de Istambul na Turquia implantou um VLT pela orla que poderia nos inspirar.

Já estivemos empolgados com o BRT (Bus Rapid Transport), também inspirado em Curitiba, para modernizar o Sistema Transcol mas os problemas envolvendo fazer um corredor de transporte por dentro da Ilha de Vitória, dividindo a cidade e consolidando os corredores voltados especialmente para o trânsito de passagem foram nos desencorajando e nos fazendo desistir deste projeto.

O transporte metropolitano para a Grande Vitória, e por conseguinte o trânsito de passagem em Vitoria, também precisa ser reestruturado e modernizado, mas o BUD pode fazer avançar muito o transporte interno na Ilha incentivando um uso mais restrito dos automóveis particulares nos deslocamentos dentro da capital. Estacionamentos subterrâneos nos extremos da cidade e linhas circulares alimentadoras dentro dos bairros são obrigatórios dentro de um projeto moderno de mobilidade urbana na metrópole capixaba.

A proposta do arquiteto e urbanista Carlos Eduardo Calmon propondo alterações no Plano Diretor Urbano, PDU de Vitória com o apoio da ADEMI e do SINDUSCON visando viabilizar a construção de edificações com mais de 150 metros de altura no centro da cidade utilizando o pagamento de “outorga onerosa” é uma ótima ideia.

No entanto, deveríamos pensar primeiro num plano mais amplo, um “masterplan” do centro histórico e da costa oeste. A requalificação das áreas hoje pouco atraentes para o mercado imobiliário como o centro histórico e São Pedro dependem de investimento em infraestrutura, no sistema viário e de mobilidade inclusive.

As Operações Urbanas Consorciadas, são uma modelagem que partem de um planejamento de desenvolvimento territorial, com previsão de investimentos em infraestrutura a serem financiados com CEPAC`s Certificados de Potencial Adicional de Construção. São títulos mobiliários, emitidos pelo poder publico municipal e vendidos no mercado de capitais, que visam financiar as melhorias de infraestrutura de um território e atrair investimento imobiliário. No Rio de Janeiro foram construídos tuneis e linhas de VLT com o recurso dos CEPAC`s e hoje os empreendimentos estão acontecendo e transformando a região do centro e do porto.

            A revisão do PDU de Vitória é fundamental para destravar o aproveitamento dos ativos ambientais, paisagísticos, históricos e culturais da nossa capital. Construir galerias técnicas ordenando a utilização do subsolo e permitindo a retirada de posteamento e fiações aéreas é o ponto de partida da requalificação urbanística.

A restauração do casario histórico, junto com novos edifícios modernos, impulsionará a reocupação habitacional e comercial do velho -e lindo- centro. Políticas públicas urbanas inteligentes desenhadas em harmonia com as forcas de mercado da sociedade e do empresariado vão alavancar o desenvolvimento sustentável e a valorização do território atraindo visitantes, investimentos e qualificando a vida dos cidadãos.

O progresso de Vitória é a locomotiva do Espirito Santo. Faz bem para todos os capixabas.