Guaidó se fortalece com reconhecimento europeu após fim de prazo dado a Maduro

O governo venezuelano anunciou que revisará ‘integralmente’ as relações com os países europeus que reconheceram o opositor, acusando-os de ‘planos golpistas’.

O opositor venezuelano Juan Guaidó recebeu nesta segunda-feira um forte apoio internacional ao ser reconhecido como presidente interino por 19 países da Europa, aos quais o governo de Nicolás Maduro acusou de apoiar.

Após a expiração de um ultimato a Maduro para que convocasse novas eleições presidenciais, esses países, liderados por França, Espanha e Alemanha, se somaram no reconhecimento de Guaidó aos Estados Unidos, ao Canadá, ao Brasil e a outros países da América Latina.

“É o reconhecimento dos venezuelanos que nunca pararam de lutar para recuperar a democracia”, disse Guaidó, agradecendo aos partidários. Ele disse esperar que a Itália se junte ao grupo de países que apoiam seu governo depois que fontes diplomáticas informaram que o país bloqueou a declaração conjunta da União Europeia.

O governo venezuelano anunciou que revisará “integralmente” as relações com os países europeus que reconheceram o opositor, acusando-os de “planos golpistas”.

“A Venezuela não impõe ultimatos a ninguém, nem ao senhor, Pedro Sánchez, nem a ninguém no mundo”, disse Maduro.

Os Estados Unidos, que garantem que a ação armada na Venezuela é “uma opção”, congratularam-se com o reconhecimento europeu.

“Encorajamos todos os países (…) a apoiar o povo venezuelano”, disse o secretário de Estado, Mike Pompeo.

A Rússia, um dos maiores aliados de Maduro, rejeitou as “tentativas de legitimar a usurpação do poder como interferência direta” por europeus, segundo o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

Maduro, também apoiado por China, Turquia e Irã, diz que Washington usa Guaidó como um “fantoche” para derrubá-lo e aproveitar a riqueza do petróleo da Venezuela.

Em meio a essa tensão, os chanceleres do Grupo Lima se reuniram segunda-feira em Ottawa e pediram uma mudança de governo na Venezuela “sem o uso da força”. Eles também fizeram um apelo para que os militares apoiem Guaidó.

As detenções pelos protestos contra o presidente Nicolás Maduro já chegam a quase mil desde 21 de janeiro, o número mais alto em quase duas décadas, denunciou segunda-feira a ONG Fórum Penal.

“Entre 21 de janeiro e 31 de janeiro, houve 966 prisões por protestos, das quais 700 pessoas permanecem sob custódia”, disse Alfredo Romero, diretor da organização que defende pessoas presas por razões políticas.

– Polêmica ajuda humanitária –

Guaidó, líder do Parlamento da oposição majoritária, está preparando a chegada de ajuda humanitária ao país. O Canadá anunciou nesta segunda-feira uma ajuda de 40 milhões de dólares, além dos 20 milhões oferecidos anteriormente por Washington.

O plano, segundo Guaidó, é coletar remédios e alimentos na vizinha Colômbia e no Brasil e em uma ilha caribenha. Ele também anunciou que uma mobilização será convocada para exigir que os militares deixem essa ajuda entrar.

Maduro considera a ajuda humanitária como a porta de entrada para uma intervenção militar dos EUA e chama os opositores de “mendigos do imperialismo”.

Guaidó disse ter informações de que os militares planejam “roubar” ou “sequestrar” a ajuda para distribuí-la por meio de um programa de entrega de alimentos subsidiado pelo governo.

A Igreja católica venezuelana pediu nesta segunda que o governo autorize a entrada de ajuda internacional. O episcopado se comprometeu a apoiar a iniciativa através da ONG Cáritas e outras organizações católicas para oferecer paliativos à severa escassez de alimentos e medicamentos.

Guaidó também denunciou que o governo está tentando movimentar cerca de 1,2 bilhão de dólares para o Uruguai e pediu que o país não se entregue a um “roubo”. Ele acrescentou que pedirá à UE que proteja os ativos venezuelanos, como fizeram os Estados Unidos.

Tentando deter o ataque de Guaidó, Maduro agora promove as eleições legislativas para 2020, apostando que a oposição perderá o único poder que controla.

“Ele está absolutamente desconectado da realidade”, reagiu o adversário.

A representação de Guaidó nos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira uma conferência internacional sobre ajuda humanitária em 14 de fevereiro na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington.

– “Não vamos participar” –

Guaidó se autoproclamou presidente interino em 23 de janeiro depois que o Parlamento – com a maioria da oposição – chamou Maduro de “usurpador” por ter sido reeleito em eleições questionadas na Venezuela e pela comunidade internacional.

Espanha, Reino Unido, França, Alemanha, Portugal e Holanda deram o domingo como prazo para Maduro convocar eleições, caso contrário reconheceriam Guaidó.

Em busca de uma solução pacífica para a crise, um grupo internacional de contato formado por países da UE e da América Latina, como Uruguai e México, terá sua primeira reunião na quinta-feira em Montevidéu.

“Nós não vamos participar, nossa agenda é clara: cessação da usurpação, governo de transição e eleições livres (…), não vamos cair em um falso diálogo”, disse Guaidó nesta segunda-feira.

O líder socialista quer que o grupo consultivo “elabore uma mesa de diálogo” e escreveu ao papa Francisco para lhe solicitar “seu melhor esforço, sua vontade” para ajudar em uma negociação.

O Grupo de Lima denunciou que Maduro manipula as iniciativas de negociação, “transformando-as em manobras para perpetuar-se no poder”.

A declaração foi assinada por todos os membros fundadores do Grupo de Lima, com exceção do México, que não reconhece Guaidó e defende com o Uruguai uma saída negociada.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, assegurou que a agência não se juntará ao grupo uruguaio “para dar credibilidade” à sua “oferta de bons ofícios às partes”.

Guaidó oferece anistia aos militares que tentam derrubar as Forças Armadas, principal apoio de Maduro, que começa a mostrar fissuras. Depois de duas manifestações populosas, o deputado convocou uma marcha para o dia 12 de fevereiro.