Último debate das eleições 2022 entre Lula e Bolsonaro

Último debate das eleições 2022 entre Lula e Bolsonaro

O confronto direto entre os presidenciáveis reforçou a temática agressiva da campanha, marcada pela prevalência das acusações mútuas e a carência de propostas.

A pouco mais de 24 horas do início da votação em segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fizeram na noite desta sexta-feira (28), o último debate da eleição, na TV Globo.

O derradeiro confronto direto entre os presidenciáveis reforçou a temática agressiva da campanha, marcada pela prevalência das acusações mútuas e a carência de propostas. Planos para um futuro governo foram pontuais em discussões que em diversas oportunidades resultou em troca de ofensas.

No primeiro turno, Lula foi o mais votado com 48,4% dos votos. Bolsonaro teve 43,2%. A diferença entre os dois foi de pouco mais de 6,2 milhões de votos. Na maioria das pesquisas de intenção de voto no segundo turno, o petista mantém a liderança por margem apertada.

Sem troca de cumprimentos no 1º bloco

Os candidatos iniciaram o debate sem trocarem cumprimentos, olhares e visivelmente tensos. No primeiro bloco, o candidato do PL levantou o tema salário mínimo, que causou desgaste à campanha no segundo turno.

A informação de que o Ministério da Economia pretendia mudar a fórmula de reajuste do salário mínimo e dos benefícios previdenciários, reduzindo o índice de aumentos, foi bastante explorada pela campanha petista na reta final do segundo turno.

Lula acusou o presidente de não dar nenhum aumento real para o piso salarial no Brasil. Bolsonaro prometeu um valor de R$ 1,4 mil para o ano que vem se reeleito. Atualmente, o piso é de R$ 1,212 mil. “Ele fala para influenciar pessoas mais humildes, em especial algumas regiões do Brasil”, disse Bolsonaro.

“Parece que meu adversário está descompensado. Ele é um samba de uma nota só”, respondeu Lula, ao exaltar os programas de distribuição de renda criados durante os governos petistas. “É uma bobagem comparar o Bolsa Família com o Auxílio Brasil, porque era só um dos programas de distribuição de renda”, disse, mencionando outros projetos petistas.

Troca de acusações repetitivas

A discussão deslizou para o assunto corrupção, com troca de acusações muitas vezes desconexas e repetitivas. Bolsonaro chegou a chamar Lula de bandido, lembrou as condenações (depois anuladas) do petista na Lava Jato. Lula rebateu citando suspeitas que envolvem a família Bolsonaro na compra de imóveis com dinheiro vivo e rachadinhas.

O ex-presidente também dirigiu ataques ao ex-juiz e atual senador eleito Sérgio Moro (União Brasil), que acompanhava Bolsonaro no debate de ontem e foi responsável por sua prisão. “Fui acusado para permitir que você disputasse as eleições, fui julgado por um juiz mentiroso.”

O presidente ironizou a defesa de Lula sobre as condenações na Justiça. “Só foi absolvido se foi pelo (jornalista e mediador do debate) William Bonner”, disse o chefe do Executivo. A citação gerou uma manifestação de Bonner, que lembrou que o teor de sua pergunta na sabatina no Jornal Nacional foi com base em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

Antigo aliados

Em outro ponto de discussão sem propostas para o País, os dois candidatos citaram o episódio envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que no domingo passado recebeu agentes da Polícia Federal que foram cumprir mandados de prisão com tiros de fuzil e granadas.

Bolsonaro questionou onde estava José Genonio, José Dirceu, Antonio Palocci, ex-ministros e ex-dirigente do PT, que foram alvo do mensalão e Lava Jato.

“Lula, cadê o (Antonio) Palocci, cadê o Zé Dirceu, cadê o (Pedro) Barusco, cadê o Paulo Cesar”, questionou o atual presidente. Lula respondeu, citando Jefferson. “Ele acabou de esconder Roberto Jefferson, o pistoleiro dele, o homem que atirou na PF”, disse o petista.

“O Roberto Jefferson recebia mala de dinheiro para comprar apoio parlamentar. O Roberto Jefferson explodiu o seu governo com o mensalão. Mais de cem pessoas presas”, rebateu Bolsonaro, fazendo referência à denúncia do ex-deputado que deflagrou o escândalo no primeiro mandato de Lula.

O tema voltou à tona durante o terceiro bloco do debate, quando o petista voltou a mencionar Jefferson, depois de questionar a política de Bolsonaro sobre o aceso a armas de fogo.

“Porque se fosse um negro de uma favela, você tinha mandado matar.

Mas agora, como foi o seu amigo Roberto Jefferson, você fez questão de ficar nervoso e dizer ‘ele é bandido’, mas você sabia que ele era, porque era seu amigo”, disse o petista, mencionando o ministro da Justiça Anderson Torres, escalado para interceder em meio às negociações para rendição de Jefferson no domingo.

Em determinado, Lula voltou a chamar o ex-presidente Michel Temer (MDB) de “golpista”, ao comentar que Bolsonaro herdou do emedebista o último governo.

“Ele se esquece que herdou a Presidência do Brasil de um golpista, que foi dado o golpe junto com ele. Não foi da presidente Dilma”, afirmou Lula.

Temer faz parte do partido da senadora e candidata derrotada no primeiro turno Simone Tebet (MDB), que declarou apoio e se engajou na campanha petista durante as últimas semanas.

Ataques continuaram no 2º bloco

No segundo bloco, quando o tema passou a ser respeito pela Constituição, Bolsonaro acusou Lula de apoiar invasões de terra.

Depois, de ter apoiado a censura à mídia – ele citou o caso da Jovem Pan, que foi alvo de decisão do Tribunal Superior Eleitoral em razão de ações movidas pela campanha petista. Lula negou a censura. Afirmou que busca a isonomia.

Críticas à condução da pandemia

No bloco seguinte, o petista criticou a condução da pandemia durante o governo Bolsonaro. “Quando ele foi comprar vacina, São Paulo e vários países do mundo já estavam dando a vacina”, mencionou o petista.

O chefe do Executivo rebateu a fala criticando os gastos do governo Lula em infraestrutura para a Copa do Mundo. “Médicos pelo Brasil, Connect SUS, incorporamos o Farmácia Popular, ampliamos o teste do pezinho”, destacou Bolsonaro, exaltando medidas tomadas pelo governo na área da saúde.

Lula ainda criticou a gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, durante a crise da covid. Bolsonaro se esquivou, afirmando que Pazuello foi o deputado mais votado no Rio de Janeiro. “Então, isso é passado”, declarou o chefe do Executivo.

Economia e meio ambiente

No quarto bloco, Bolsonaro rebateu dados de sua gestão na Economia e afirmou que, caso reeleito, o Brasil deve ter crescimento maior do que o da China.

“Tudo acertado para decolarmos e a Economia está sendo carro-chefe. Uma das melhores Economia do mundo. Vamos crescer mais do que a China. Temos a inflação menor do que a Europa e Estados Unidos”, disse o atual presidente.

Na sequência, Lula afirmou que, caso eleito, irá trabalhar junto de prefeitos e governadores para estabelecer propostas e obras prioritárias de desenvolvimento nas áreas da Saúde e Educação.

“Esse é o papel de um Presidente da República. É harmonizar a sociedade, fazer o pacto federativo e trabalhar junto”, afirmou. Ao falar sobre o meio ambiente, o ex-presidente questionou Bolsonaro sobre os índices de desmatamento durante o atual governo e foi rebatido pelo candidato do PL , que comparou os números atuais em relação ao do período petista. Lula ainda exaltou medidas de incentivo a energias renováveis durante os governos de seu partido.

No mesmo bloco, o ex-presidente voltou a administrar mal o tempo de resposta e deixou dois minutos para o presidente Jair Bolsonaro falar sozinho.

Considerações finais

Durante as considerações finais, o candidato petista destacou feitos das gestões do partido e pediu para que os eleitores compareçam às urnas. “Eu espero que tenha merecido a sua consideração e peço para você votar no 13”, afirmou, fazendo um aceno a eleitores indecisos e possíveis abstenções, que podem decidir o resultado do pleito no próximo domingo.

Já Bolsonaro mencionou temas ideológicos, como liberdade, aborto e liberação de drogas, além de mencionar o atentado que sofreu durante a disputa à Presidência em 2018.

“Tenho certeza que no próximo domingo venceremos as eleições, vamos lá, o Brasil é nosso, até a vitória”, afirmou, sem mencionar o número 22, sigla do partido.

Fonte:FolhaVitória