Sessão debate soberania de países africanos

Sessão debate soberania de países africanos

No próximo dia 24 de setembro são comemorados os 50 anos da declaração da independência da Guiné-Bissau. A soberania dos países africanos, a partir da experiência guineense, foi tema de sessão especial realizada na Assembleia Legislativa (Ales) nesta sexta-feira (22). A iniciativa foi do mandato da deputada Iriny Lopes (PT).

A proponente da sessão listou três motivos para a realização do debate. “Primeiro, foi demonstrar que é importante a independência dos países africanos que, até hoje, sofrem com a colonização. Segundo, é mostrar a dificuldade de um país para se descolonizar, para ter suas próprias tradições, para se construir da maneira que for melhor para o seu povo. Guiné-Bissau tinha pouco mais de 400 escolas quando foi libertada, quando se libertou de Portugal. Você imagina um país ter cerca de 418 escolas? Isso demonstra o quão importante foi essa descolonização. Terceiro, é proporcionar a eles a nossa alegria pelos 50 anos de independência”, elencou Iriny Lopes.

Conforme a deputada, no acordo internacional dos países de língua portuguesa, “a Guiné Bissau é o segundo país com maior número de estudantes no Brasil, na universidade que foi criada exclusivamente para receber estudantes estrangeiros. Essa cooperação internacional – os brasileiros irem estudar em outros países e nós recebermos estudantes de outros países – é muito importante para o crescimento da educação a nível internacional e a cooperação entre os países”, considerou.

O professor José Elias Le Noir, doutor em estudos africanos, com ênfase na Guiné-Bissau, fez um resgate histórico que levou até a independência guineense. Citou as particularidades nos casos de independência das colônias africanas dos domínios dos ingleses, franceses e portugueses. Conforme apontou, Cabo Verde e Guiné-Bissau foram as últimas colônias a ter a independência:

“A resistência foi muito maior do Império Português. Amílcar Cabral aceita o desafio de liderar esse processo mesmo tendo que usar a força. A guerra de independência foi muito intensa a partir do partido PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), que foi fundado em 1959. Diferente da França, Portugal manteve a ideia das colônias africanas serem dominadas até as últimas consequências”, lembrou Le Noir.

De forma remota, o professor Rui Jorge Semedo disse que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência unilateral da Guiné-Bissau e que o fato foi muito importante para os outros países africanos e mesmo para Portugal. “Hoje a Guiné-Bissau completa 50 anos de independência, nesse processo ainda com alguns problemas, mas com muita esperança em poder traduzir aquilo que foram as aspirações de seus combatentes da liberdade pátria em conquistas concretas”, destacou.

A professora Andrea Teixeira Ramos falou sobre a contribuição de Paulo Freire “a partir de uma proposta política-pedagógica de descolonização da educação, especialmente a partir do livro Cartas à Giné-Bissau – registro de uma experiência em processo”, apontou. Também falou da importância da Lei 10.639, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.

Patrício Baionco Mindelo Biaguê afirmou que debater assuntos de intercâmbio de relações bilaterais e multilaterais fortalece a globalização, assunto abordado por ele na tribuna do plenário:

“Precisamos fortalecer as nossas relações na área da educação, cultura, na área de integração regional e sub-regional. O governo brasileiro propiciou isso. Desde 1965, o governo brasileiro incitou uma relação muito produtiva com os países africanos, especialmente a Guiné-Bissau, que proporcionou essa vinda dos alunos aqui para o Brasil para obter uma formação superior. Nós sabemos que a formação superior abre portas para o mundo e para a sociedade, fortalece, potencializa os jovens para o mundo do trabalho”, ressaltou.

O professor também destacou a abertura da Ales para falar sobre o assunto. “Primeiramente agradecemos essa oportunidade, poder trazer esse debate para a casa do povo, casa legislativa, apresentar para a sociedade que existe sociedade africana em Vitória. De alguma forma o governo do Estado do Espírito Santo abriu as portas, agradecemos imensamente por essa abertura, porque proporcionou com que os alunos de diverso países africanos pudessem estudar na Ufes, fazer um curso superior, para que seja um homem, um profissional de amanhã”, disse Patrício Baionco.

Após os debates foram realizadas homenagens, além de desfile em trajes africanos e apresentação de dança típica pela comunidade guineense residente no Espírito Santo.

República da Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau, oficialmente República da Guiné-Bissau, é um país da costa ocidental de África. Foi uma colônia de Portugal desde o século XV, teve sua independência declarada em 24 de setembro de 1973 e reconhecida pelo colonizador em 10 de setembro de 1974. Assim, Guiné-Bissau foi a primeira colônia portuguesa no continente africano a ter a independência reconhecida por Portugal. Sua capital é a cidade de Bissau, sua moeda é Franco e a língua oficial é o português.

Fonte: Ales